RODOLFO E A CRISE DOS 40 - PARTE I >> Zoraya Cesar
Quem faz 40 anos não quer perder tempo. Comecemos, portanto, nossa história, entrando direto no assunto: ao completar 40 anos, Rodolfo olhou pra sua vida e achou-a a coisa mais sem graça do mundo.
Seu emprego era bom, mas o trabalho era chato; sua rotina resumia-se à casa, trabalho, encontro com os amigos, namorar a mesma mulher há anos. Antoninha, a noiva, era desprovida de qualquer dos atributos que encantam o imaginário masculino: não tinha bunda, não tinha peito e ainda por cima usava óculos. Era engraçada, fiel e inteligente, mas quem se importa?
Trocar de trabalho e fazer esportes radicais, nem pensar. Rodolfo direcionara toda sua vida para a pacatez e agora estava indócil; queria aventuras para contar aos amigos (aventuras sexuais, sejamos claros). Era sempre o ouvinte passivo, nunca tinha nada de seu para contar, e ele queria tanto, ó, tanto mesmo, mudar essa situação, ser admirado, ter suas histórias passando de roda em roda, todos dizendo “E o Rodolfo, hein? Cabra da peste, garanhão e pegador. Já sabe da última dele?”
A única solução, a seu ver, era se livrar do noivado longevo, o que fez com um mínimo de remorso. Deixemos de lado, pois, a coitada da Antoninha, que saiu sem entender patavinas, e voltemos a Rodolfo, que, tão logo se viu solteiro e desimpedido, inscreveu-se num desses sites de relacionamento e #partiuencontro.
PRIMEIRO ENCONTRO - A mulher era linda e loura, sonho de consumo de Rodolfo, que jamais conseguira convencer Antoninha a pintar os castanhos cabelos. Linda, loura e disposta, dispostíssima, aliás, a também não perder tempo. Foram, então, direto para o motel.
A noite foi curta para tanta fantasia realizada. A tal loura topava tudo, tinha um arsenal de ideias do arco-da-velha, e, obviamente, viera preparada para aquilo. Até que Rodolfo, quarentão sedentário, acostumado ao feijão-com-arroz de todo dia com Antoninha, dormiu, exausto. Dormiu como o homem mais feliz do mundo, para acordar como o homem mais achocolatado do mesmo mundo.
Algemado à cama, besuntado de chocolate por todo o corpo nu sem pelo (sim, sem pelo, pois uma das práticas excitantes da loura foi depilar Rodolfo para depois... não vou contar, esse é um blog família). Sem pelo, sem dinheiro, roupas, celular, cartão... a loura realmente fez uma depilação completa.
Algemado, achocolatado e humilhado, Rodolfo foi resgatado pelo gerente do motel horas depois. Pediu a um amigo que levasse roupas e um chaveiro profissional - para abrir as algemas. O amigo fez tudo e ainda pagou a conta astronômica, mas aproveitou para fotografar situação tão inusitada. Era gente boa, o amigo, não postou nas redes sociais. Mas mostrar as fotos, mostrou-as, e, ao final do dia, o grupo todo estava sabendo do caso, nos mínimos e sórdidos detalhes. Amigos, amigos, patifarias à parte.
Nada contaram a Rodolfo, porém, que aferrava-se ao intento de se tornar assunto reinante. Marcou encontro com outra loura. Agora que estava livre e aos 40 anos, só sairia com louras.
SEGUNDO ENCONTRO - E essa era verdadeiramente um portento de loura. Alta, grande, exuberante, tinha longos e lisos cabelos que balançava de lá pra cá, fazendo charmosos meneios com a cabeça, ajeitando-os com suas mãos largas, de compridas unhas coloridas de vermelho-socorro. O decote mais que generoso atraía os olhares masculinos para os grandes peitos que saltavam para fora da blusa de oncinha. Franzino, Rodolfo parecia ainda menor ao lado dela, mas o possível constrangimento foi logo substituído pelo prazer que os afagos da super-loura lhe proporcionaram. Daí que ele resolveu, antes de levá-la ao motel, apresentá-la aos amigos, para que todos vissem o tipo de mulher gostosa com a qual se relacionava agora.
A chegada do casal realmente causou burburinho entre os amigos, afinal, Caroline Valérie – esse o nome da loura – era uma presença marcante. E, na frente de todos, trocaram beijos e carícias a rodo. Os amigos, ressabiados, trocavam olhares indecifráveis, comportamento que Rodolfo interpretou como sendo de pura e rasgada inveja. Tão vendo, pensava, exultante, como sou capaz de conquistar um mulherão desses? Saiam da frente, que agora sou um novo homem, solteiro e pegador.
Esquecera totalmente o fiasco das algemas com chocolate. Cansado de se exibir, levantou-se, despedindo-se às pressas. Ele queria mesmo era ter histórias sexuais para contar, e não ficar somente de beijos e abraços, que estava com 40 anos, não era mais criança.
Levou, portanto, a loura portentosa para a cama, pois seu lema, agora, era “um encontro, um motel”.
O que ele não sabia é que Caroline Valérie também tinha um lema: “ajoelhou, tem de rezar”...
As aventuras de Rodolfo continuam dia 13 de março
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beijos animada amiga, #partiuencontro #rodolfosnempensar!