OS FILHOS DA MAROLINHA >> André Ferrer
Depois do carro, J. B.
(19 anos) acha o smartphone um item indispensável para que a balada de sexta-feira
seja ótima. Este ano, entretanto, viu-se diante de uma escolha difícil. Agora,
ele precisa decidir entre abastecer o carro e comprar créditos para o celular.
Ao lado das roupas, S.
V. (17 anos) adora tecnologia; tablets e celulares cheios de funções. Já
teve cinco aparelhos telefônicos em sua vida e, para ele, tanto a presença nas
redes sociais quanto a boa aparência são fatores decisivos no seu “trabalho”.
S. V. iniciou a carreira de Mc em 2013. Este ano, entretanto, seus pais não
param de repetir que ele precisa arrumar um emprego. Agora, o rapaz passa horas
na rua porque o ambiente familiar, de fato, incomoda.
A "famosinha" M. T. (12 anos) possui
mais de 2.000 seguidores numa rede social e nunca repetiu o “visu” nas fotos da
sua fanpage. Este ano, ela ainda não foi às compras com a mãe porque as prestações
da moto estão atrasadas. A mãe dela usa a moto para vender produtos de beleza
de porta em porta. O pai de M. T. não mora com elas.
O “pequeno milagre
econômico” (mais falso e sorrateiro do que o Milagre Econômico do Regime Militar)
sob as asas do qual esses três jovens cresceram, ao que tudo indica, está no fim. Na verdade, toda
uma geração chegou ao mundo neste período - um mundo que, lá fora, na Europa, enfrentava uma crise
gigantesca. Ironicamente, J. B., S. V. e M. T. cresceram num país governado por
irresponsáveis. Passaram anos fundamentais das suas vidas debaixo da eufemística declaração
de que a crise inevitável era “só uma marolinha” (talvez, a mais "célebre" das declarações do presidente Lula).
Enquanto a crise internacional e a corrupção interna corroíam o Brasil, jovens
como estes viviam como playboys da classe emergente. Foram três mandatos, 12
anos, portanto, em que medidas populistas e pesados investimentos em marketing
iludiram o povo acerca da verdadeira pressão que vinha de fora.
Este ano, agora, entretanto...
Este ano, agora, entretanto...
Sem dúvida alguma, a
tábua de salvação se apresentou para muitos. No meio dessa barafunda
clientelista, assistimos a um aumento na procura pelo ensino técnico e superior.
Bem-aventurados aqueles que conseguiram se agarrar a ela e com muita "garra" para
seguir até o final.
A menos que J. B., S.
V. e M. T. levem uma carreira escolar acima da média, infelizmente, a decepção
será catastrófica.
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Ivonilson Magalhães, Criciúma, Santa Catarina