AÇÚCAR!!! >> Sergio Geia
Antigamente eles vinham num pote
bojudo, a granel, quantidade farta, a gente se lambuzava. Depois segregaram os
cristaizinhos em miúdos sachês de cinco gramas. Aliás, tudo virou sachê. Viu,
não? Mostarda, ketchup, maionese, açúcar. Até inventaram o abridor de sachê.
Coisa fina: você chegava ao estabelecimento e se deparava com o abridor
melecado até os tubos. Mas os sachezinhos estavam lá, fartamente distribuídos, à
espera dos doçólatras de plantão.
Não sei se em todo lugar tá assim, mas
aqui em Taubaté, meus amigos, de uns tempos pra cá, venho notando, meio
desconfiado, a ausência desse inestimável contribuinte da beleza da vida. Quando
peço meu expresso, pão com manteiga, suco de laranja, ele aparece minguado,
solitário, na bandeja de uma das mocinhas. Como sempre preciso de mais, a
demora faz esfriar o meu café.
No começo, relevei. Porém a situação,
que reparei generalizada nas padarias da região, de uns tempos pra cá passou a
me incomodar. Então, antes de qualquer providência mais enérgica contra esses
insensíveis proprietários de padaria, pus-me a refletir sobre melindrosa questão,
entender o que de fato acontece. Entre as diversas hipóteses e teorias conspiratórias
aventadas, a primeira delas, meio estranha, confesso, foi simplesmente a falta
do produto no mercado. Como Taubaté é pioneira em certas bizarrices (você não
se lembra de nossa falsa grávida? É! Foi aqui!), concluí que nós não poderíamos
ficar atrás, e como até o momento a água ainda jorra de nossas torneiras,
elegeu-se o açúcar, esse meloso alimento, como o produto da vez.
Será? Já estou até vendo a notícia: EM
TAUBATÉ NÃO FALTA ÁGUA, MAS AÇÚCAR. Se formos fazer uma reflexão perfunctória
sobre o tema, a verdade é que estamos ganhando, afinal, em tempos de stress
hídrico, água é ouro nas ilhas de calor. É muito melhor ficar sem açúcar do que
sem água, claro, claro. No entanto, uma passadinha no supermercado me fez
abandonar a teoria: os pacotes estavam lá, aos montes.
Outra ideia que me passou ligeira foi
que as autoridades, a indústria, o comércio, e, principalmente, os donos de
padaria, estão preocupadíssimos com a nossa saúde e resolveram implementar uma
campanha de redução do consumo de sacarose. Assim como um dia eles tiraram o
sal do queijo minas e o deixaram sem graça, agora querem acabar com o nosso brownie,
petit gateau e outras delícias.
Nada mais louvável, alguém diria,
afinal, a obesidade é uma doença. No entanto, sou daqueles que rechaçam a ideia
de patrulhamento e que está no time dos que defendem a liberdade individual de
cada um decidir o que é melhor para si. Essa eterna mania de as autoridades
decidirem o que eu devo fazer no meu quintal. Ora bolas, o corpo é meu, seu,
dele, dela. Se a pessoa quer fumar maconha, se prostituir, ou exagerar no
açúcar, eles não têm nada a ver com isso.
Mas eis, meus queridos, que entre eu
dar uma chegadinha na cozinha para pegar um cone de chocolate (o melhor de
Pindamonhangaba) que comprei de uma loirinha graciosa ontem no bar, e retornar
para concluir meu raciocínio, minha filha de 13 anos, que espiava o que eu
estava escrevendo, não aguentou tamanha inocência e comentou como se eu fosse
um velho babão: “Não é nada disso, pai! Como
eles não faturam com o açúcar, eles deram um jeito de pessoas como você usarem
menos sachês.”
Vi minha filha digitando. “Tá pronta, pai. Pode publicar!” Sei...
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