DE VOLTA PRA CASA >> Sílvia Tibo
Já são três anos sem você. Mas é engraçado, parece que nos vimos ainda ontem.
Talvez porque eu tenha sempre uma foto sua em algum ponto da casa. Talvez porque a senha do computador que eu acesse diariamente, assim que me levanto, seja uma palavra de que você gostava. Talvez, ainda, porque são raros os dias em que nada me leva a você.
Há quem veja tudo isso como tristeza, melancolia e luto. E então, diga que preciso superar a perda pra continuar vivendo. A estes, respondo que sua partida não se trata exatamente de algo que precise e possa ser superado. E, muito menos, de algo que eu queira superar. Ao contrário, sua presença, nessa vida, é o que eu mais desejo preservar.
Há, também, os que (bem intencionados, reconheço) dizem que o vazio certamente vai ser preenchido quando vierem os filhos. A estes, respondo que sua ausência física não é, propriamente, um buraco, apto a ser preenchido com o que quer que seja. Até porque se, por um lado, nossas mãos não podem agora se tocar, nossas almas estão invariavelmente ligadas. E por vezes se encontram, nos meus mais belos sonhos.
Além do mais, com o perdão da sinceridade, não acho que filho substitua mãe. Assim como mãe não substitui marido. Marido não substitui irmão. Irmão não substitui amigo. Cada um no seu quadrado, é minha opinião.
Nos últimos dias, ao tempo em que a primavera chegava e o frio se despedia, as lembranças se acirraram. Não só (e propriamente) porque se aproxima a data em que você partiu, mas, sobretudo, porque flores, cores e dias lindos de sol me dão a certeza de que você permanece viva em algum lugar.
Na semana que passou, entre flores, saudades e raios de sol, andava à procura de algumas horas livres pra ler um bom livro, disparadamente (e para o estranhamento de muitos) minha maior diversão.
Assim que o trabalho permitiu, fugi pra um lugar tranquilo e comecei a devorar a nova obra de Leila Ferreira, cujo título, “Viver não dói”, me pareceu bem pertinente. Lá pelas tantas folhas, me deparei com algumas poucas palavras que, juntas, definem exatamente essa sensação de permanência, que nem a morte parece ser capaz de apagar.
Está lá, na página 175 do livro, estampada com todas as letras: memória é “um lugar sagrado onde os sentimentos não têm data para existir e a nitidez das imagens costuma ser bem maior do que as fotografias”.
À definição perfeita de Leila, permito-me (humildemente) acrescentar que a memória é o que mantém incólume a nossa essência. E é, ainda, o que nos dá alguma certeza e segurança nessa vida. Porque, para além das mudanças e turbulências que o tempo invariavelmente traz, a memória está sempre ali, pronta a nos reportar ao lugar de onde viemos, àquilo que realmente somos. Nos dias em que o chão nos falta, é ela quem, gentilmente, nos leva de volta pra casa.
À definição perfeita de Leila, permito-me (humildemente) acrescentar que a memória é o que mantém incólume a nossa essência. E é, ainda, o que nos dá alguma certeza e segurança nessa vida. Porque, para além das mudanças e turbulências que o tempo invariavelmente traz, a memória está sempre ali, pronta a nos reportar ao lugar de onde viemos, àquilo que realmente somos. Nos dias em que o chão nos falta, é ela quem, gentilmente, nos leva de volta pra casa.
Comentários
Obrigada por suas sempre doces palavras... quando eu crescer, quero ser uma grande escritora, como você.
Grande beijo!
Lidar com a ausência é mesmo uma tarefa difícil, que tenho sido obrigada a cumprir diariamente nesses últimos três anos... Mas acho que, para além da perda de quem se ama, ficam as belas recordações, guardadinhas na memória. E é essa memória que me mantém viva.
Obrigada pela leitura e pelo carinho!
Beijo!
Obrigada...
:)
você tem um talento maravilhoso.
Quando puder venha à sua "casa".
Abração e estou com saudades!!!
:)
Beijinhos.
Pai