COISAS DA VIDA >> Sílvia Tibo
Até bem pouco tempo atrás, tinha em casa, colado atrás de uma das portas do guarda-roupa, um pedaço de papel com um punhado de metas e atividades a serem executadas ao longo dos meses e anos seguintes. Além disso, andava sempre com um bloquinho de notas a tiracolo, onde tentava agendar, com rigor, todo e qualquer compromisso assumido.
Obviamente, volta e meia acontecia uma surpresinha que abalava o esquema, o que me obrigava a traçar novas datas para o cumprimento de uma ou outra tarefa. E, por mais que isso não me trouxesse qualquer tipo de prejuízo real, era suficiente pra deixar malucos (e à flor da pele) cada um dos meus mais calmos nervos.
Com roteiro à mão, seguia vivendo, na ilusão boba e egoísta de que as forças do universo estavam (ou deveriam estar), todas elas, à minha inteira disposição, conspirando o tempo todo pra que o meu script fosse executado dentro do prazo estimado e nos termos estabelecidos.
Ao longo do tempo, sem que eu me desse conta, os papeizinhos colados no armário ou carregados diariamente na bolsa passaram a ser responsáveis por crises de ansiedade e noites de insônia, que me fizeram, inclusive, gastar horas (e uns bons trocados) em bate-papos terapêuticos.
Tardou (e muito!) pra que eu entendesse e aceitasse que o planejamento tinha ultrapassado os limites da disciplina e da organização saudáveis e necessárias pra que se chegue a qualquer lugar.
Nessa loucura toda, foram muitos os benefícios das sessões de terapia. Tantos que, até hoje, já mais ou menos livre dos roteiros rigorosos e inimigos, aquelas conversas curativas continuam fazendo parte da minha rotina.
Mas, para além dos conselhos profissionais, é a própria vida quem tem se encarregado de me mostrar que tem rumos próprios. E se esses rumos, por vezes, nos conduzem a situações ruins e indesejadas, são igualmente capazes de nos transportar a destinos surpreendentemente melhores e mais interessantes do que aqueles que insistíamos em aprisionar nas planilhas e nos bloquinhos de notas, como se fossem os únicos possíveis e imagináveis.
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Abraços, Isabela.
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