ONDE SE RECARREGA A PAZ DE ESPÍRITO? >> Mariana Scherma
Pela
segunda vez na vida, eu fui assaltada. Nada de muito dramático: o sujeito me
abordou na saída do trabalho e levou meu dinheiro e celular. Ainda ficou
irritadinho porque eu, tremendo de medo, não achava a carteira nem o celular,
perdidos no buraco negro que habita minha bolsa. Tinha pouca grana e meu
celular valia menos que o dinheiro que eu tinha, ou seja, o sujeito conseguiu
comprar meia dúzia de cigarros de maconha, uma pedra de crack e olhe lá (não
que eu saiba o valor dessas coisas, tô só supondo). Mas esse tipo de gente não
pensa no futuro, amanhã, quando seu estoque de substâncias ilícitas tiver
chegado ao fim, é só ele abordar outra pobre alma, prestes a perder um bem
muito mais valioso que um celular: o sossego de andar tranquilamente pelas
ruas.
E
é isso que mais me deixa brava com os assaltantes. O ato em si já é terrível,
tirar de alguém algo conquistado com trabalho honesto vai ser sempre um crime
nojento. Mas um ladrão acaba levando da gente uma tranquilidade que demora a
ser alcançada outra vez. Eu moro pertinho do trabalho e ele me abordou no
caminho que faço todo santo dia. Ele me tirou a paz que é andar pela rua com os
pensamentos ligados no modo shuffle. Agora, ando repetindo a mim mesma: “tem
alguém estranho atrás? Vai mais rápido! Olha pra trás de novo!”. Minha paz de
espírito é um dos meus maiores bens. E agora, estou naquela fase em que meus
pensamentos me fazem agir como se eu estivesse caminhando por um campo minado.
Saio
à noite do trabalho, não tarde, mas já está escuro. E ouvi de um fulano algo
como: “mas você estava pedindo! À noite, nessa rua?”. É uma rua pouco
iluminada, ok, mas pedindo pra ser roubada?! Acho um insulto como algumas
pessoas pensam. A violência nunca vai ser um fato banal pra mim. Eu me recuso a
esperar ser assaltada em cada esquina, apesar de agora estar andando ainda mais
prevenida, ou melhor, desprevenida: nada de documento, quase nada de dinheiro,
zero cartões. Chave na mão. Na bolsa, só mesmo o que não rola carregar na mão e
não tem valor. Esse medo que a violência nos faz sentir é a pior parte do
assalto, não que exista uma parte melhor.
E
o que fazer? Enquanto existir gente que acha mais fácil ganhar dinheiro tirando
dos outros, que está com a consciência tão noiada que não vê problema em não
ter consciência dos atos, o melhor que a gente faz é se recuperar rápido do
trauma e contar com a solidariedade dos amigos. Eu, agora, volto de carona com
minhas amigas queridas (que entendem minha tremedeira ao sair do trabalho e
assustar às vezes com minha própria sombra, mas vai passar, eu sei. Já passou
uma vez...). Tentar ver algo positivo do acontecido também é sempre uma boa: um
monte de ex chato não tem mais meu número de celular (achei o ocorrido um
incentivo pra mudar o número). Ah, e ganhar o apoio do vizinho gato, que tentou
consolar uma chorona desesperada, não é nada mal... Mas absolutamente
nada que seja suficiente pra justificar a falta de paz que eu estou enfrentando.
Hoje
em dia, é assim: se você nunca foi assaltada, as pessoas assustam como se você
fosse um alien que acabou de chegar a Terra. Infelizmente. Pra melhorar? Mais
educação, mais iluminação nas ruas, leis mais severas, salários decentes, menos
impostos... Tem muita coisa que pode ser feita pra diminuir os crimes, mas
ainda não inventaram um jeito de fazer brotar consciência em pessoas que atormentam
sua tranquilidade. E isso, pra mim, é o mais urgente de tudo.
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