CANÇÕES >> Carla Dias >>
Infinito meu
agora que a lua sola
eu amanheço a noite em sua hora
"Infinito meu", Gero Camilo
agora que a lua sola
eu amanheço a noite em sua hora
"Infinito meu", Gero Camilo
Eu estava escutando uma canção linda, linda, composta pelo maravilhoso Gero Camilo e interpretada belamente pelo extraordinário Rubi. Eu sei, são adjetivos positivos demais para uma frase só, não?
Não.
Infinito Meu
é uma canção especial mesmo. As pessoas envolvidas no feito, então... Artistas
capazes de nos virar ao avesso por meio de suas crias.
Escutando a
canção, peguei-me questionando o que em mim posso considerar infinito e meu. Separando
as palavras, dá-se um novo sentido ao dito. Um infinito meu nem sempre está de
acordo com o que é infinito e o que é meu.
Questões existenciais
e questionamentos sobre o universo e o ser humano são infinitos. Livros de
cabeceira, CDs constantemente no player, filmes que já assisti nem sei quantas
vezes são meus. O amor que sinto pelos meus sobrinhos, definitivamente
infinito. Os personagens dos meus livros, meus, mas apenas até criarem vida
própria.
Minha versão
de um infinito meu ainda é incógnita, talvez assim o seja eternamente... Ou
infinitamente? Ou possessivamente de tão meu?
Canções como
essa me fazem trafegar por sensações que não são rotineiras. Não é medo, não é
a insegurança, não é a felicidade efêmera de quando se consegue realizar algo,
aqueles minutos em que sorrimos como se fosse a única coisa a ser feita. Elas
me abarcam com sentimentos que nem sei se aprenderei a sentir, que acessam partes
do meu dentro que desconheço.
Canções como
essa me levam a revisitar cômodos vazios, lacunas, a olhar pelas frestas, a
observar trincaduras, a reivindicar atenção minha a mim mesma. Permite-me pensar
sobre outros, a mergulhar em empatia, a aceitar contradições com a leveza
necessária para não mancomunar com culpas. Porque sou hábil com as culpas, e as
crio debaixo da barra da saia dos meus melindres. Eu as alimento com esperas,
silêncios, asperezas que é para mantê-las em plena forma. Afiadas.
Às vezes,
canções como essa me colocam em modo choroso, levando-me a um estado de
concentração em distrações. Abstenho-me do mundo, das suas exigências, e ainda
que dure por pouco tempo, é como se tivesse tomado uma garrafa de alívio
sozinha, no gargalo. E tudo faz um sentido organizado de um jeito que não sei
bem como explicar, mas me permite retomar o fôlego, levantar de tombos. Depois,
passa.
Passo.
Infinito meu
é esse lugar onde encontro a mim, antes de me jogar à vida. Onde me perco,
constantemente, de mim. E pressionada pela incapacidade de caber aqui e ali,
amoldo-me ao ensejo da sua bondade em me permitir ficar.
Aninho-me, jogo-me
ao infinito que é meu somente quando ele decide ser.
Ou quando
escuto canções como essa.
INFINITO MEU - RUBI
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