SOBRE NEUROSES, PSICANÁLISE E MATERNIDADE >> Clara Braga
Um dos vícios que adquiri na quarentena, foi o do podcast. Sim, eu sou atrasada nas tecnologias e até março do ano passado ainda era o tipo de pessoa que se perguntava o que era e para que servia exatamente o tal do podcast. Mas vejam que evolução, agora sou uma pessoa que até indica podcasts.
Um dos que mais gosto e que estou ouvindo frequentemente chama-se Calcinha Larga. São três mulheres, mães, que entrevistam outras mães sobre diversos tópicos, mas sempre ressaltando a tal maternidade real, afinal, passou da hora de entendermos de uma vez por todas que a maternidade tem sim seus dias de glória, mas os dias de luta são exaustivos e isso não faz de nenhuma mãe, menos mãe.
O último episódio que ouvi me fez gargalhar alto várias vezes, pois falava sobre neurose. Se você conhece uma mãe que não é nem um pouquinho neurótica, manda estudar, pois ela é uma raridade.
Eu comecei a ouvir o tal episódio com a certeza de que eu sou a neurótica nível um ou dois, no máximo. Ou seja, tenho minhas neuroses, mas nada fora do controle. Então, conforme cada uma das mães ia falando, eu ia automaticamente me identificando.
Já foi olhar no berço se o filho está respirando? Com certeza, essa é a neurose clássica da maternidade, faço até hoje, a única coisa que mudou foi o berço, que virou cama, de resto está tudo igual. Inclusive, já aceitei que vou fazer isso pelo tempo que ele morar comigo. Talvez isso faça ele querer sair de casa antes do previsto, mas paciência, eu sou de família espirita e aprendi que foi ele quem escolheu a mãe que queria ter, então agora ele que lute.
Rezou para todos os santos pedindo que o filho dormisse a noite toda e, no dia que isso aconteceu, ficou acordada achando que ele não estava bem? Sim, todas as três vezes que isso aconteceu nos 3 anos de vida do meu filho.
Viajou de férias e ficou mais estressada do que relaxada pois imaginou mil tragédias que podiam acontecer ao longo da viagem, começando pelo avião que podia cair até a clássica cena da criança perdida na praia? Com certeza, inclusive, se alguma emissora estiver contratando roteirista, eu estou pensando em tentar algo nessa área, pois já imaginei tanta situação trágica que consigo escrever, no mínimo, uma trilogia de desgraças maternas. Ah, e tudo que meu inconsciente deixa de fora, alguém da minha família me liga amigavelmente, dizendo que não quer assustar, apenas contribuir para uma viagem tranquila, então pergunta se eu vi a reportagem do menino que morre na praia entalado com milho.
Já leu sobre alguma doença que está aparecendo na região e, ao olhar para o seu filho, identificou todos os sintomas? Claro! Inclusive, se depender do meu diagnóstico, meu filho já teve covid umas 30 vezes, como ele pegou estando de quarentena em casa? Como ninguém da casa pegou, sendo que dormimos todos na mesma cama? Não sei, essas perguntas deixo para os cientistas responderem!
Já mandei foto de manchas do corpo dele para o whatsapp da pediatra no domingo à noite e xinguei toda a família dela, pois ela levou mais de 5 minutos para me responder. Já achei que ele precisava ir ao hospital, mas não levei pois achava que no hospital ele acabaria pegando mais doenças do que a que ele já tinha. Enfim, me encaixei em absolutamente todos os tópicos que foram abordados no episódio.
Mas, só quando me vi anotando o nome de um lugar em São Paulo que tira piolho do cabelo da criança sem precisar do tal produto que pode queimar o couro cabeludo, mesmo eu morando em Brasília mas pensando que talvez seja útil, que notei que nenhuma das mães que estavam apresentando o podcast tinham todas as neuroses. Cada uma compartilhava a sua, algumas se identificavam, outras não, mas a única que tinha absolutamente todas era eu.
Nesse momento, as gargalhadas descontraídas se tornaram risos de nervoso, e quando o episódio acabou, descobri que sou neurótica nível máximo. Ainda não decidi o que fazer com essa informação, talvez seja legal começar uma terapia, mas enquanto estou digerindo tudo isso, já comecei a acompanhar outro podcast, esse sobre neuroses e psicanálise, achei que pode ser útil!
Comentários
Bjsss!!
Me preocupo com meus filhos já adultos. Uma menina de 38 anos e um menino de 27. Qdo eram crianças eu esqueci o Gabriel na escola. Busquei 1 hora depois e a Carla reclama sobre os vestidos segundo ela, horrorosos. Meu lado calcinha larga é entender e acolher meus filhos me equilibrando e brigando com os racistas (meu filho é negro) e homofóbico ( minha filha é lésbica).
Conte-nos, sempre que possível.
Mentalizando para você conseguir o cargo de roteirista!
HAHAHAHAHA
Será que algum pai cronista se arrisca a escrever as suas neuroses? ;-)