HOMENS OPACOS>> Analu Faria
Homens que não falam,
aparentemente não sentem, homens que não discutem, homens de salão. Homens cordiais
demais (cercados de mulheres assustadas demais ou acomodadas demais) para
afrontar as atrocidades de outros homens que, nesses mesmos salões, dizem
violências em tom de piada, com naturalidade. Homens que se dessensibilizam em
dinheiro, status, álcool, religião. Homens que, em meninos, fecharam-se e
jogaram as chaves de si mesmos fora.
Fantasmas. Vagando pelo limbo
casa-trabalho-happy-hour-fim-de-semana, em busca de uma masculinidade perdida,
isenta de memória, isenta de criatividade, isenta de qualquer traço florido.
Bolsonaros-wanna-be e suas versões mais light, deixando-se levar apenas pela
sensibilidade das crianças. Só delas.
Crianças crescidas. Com grossas capas
amarelas que os protegem contra uma chuva que não vem. A vontade de gritar
quando criança, a diferença enxergada desde cedo – repelida - , a violência que
não se desvê e outros porcos selvagens grunhindo no porão estão todos dentro de
casa, mas a proteção é usada para o exterior, mesmo em dias ensolarados: longas
capas de chuva grudadas à pele embranquecida e desnutrida.
Animais doentes, que atacam
insetos como quem caça javalis e deixam-se pisotear por leões mansos de jubas
grandes. Perderam o contato com o espírito selvagem e sábio que os alimentava. Homens
com medo de serem monstros, homens que temem deixar de sê-lo.
Uma reflexão sobre alguns homens
que conheço e sobre a dor de linhagens e linhagens de mulheres aparentemente
condenadas a viver com homens fechados, sempre encapuzados, desnutridos,
sensíveis apenas a crianças e olhe lá. Uma reflexão de fim de semana, motivada
pelo belíssimo “Sete minutos depois da meia noite”, filme em que um garotinho
tem que admitir para si mesmo que queria que a mãe morresse logo, porque assim,
pelo menos, ele não sofreria mais com a dor de não saber se iria ou não perde-la
para o câncer. No filme, o garoto é procurado por um monstro que o força a
admitir essa verdade dolorosa. Pareceu-me que depois de dizê-la em voz alta o
garoto se transformou, toda a fotografia do filme mudou de cor, deixando o
menino finalmente visível em tons brilhantes, acabando com a opacidade que o
caracterizava.
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