PSIU, NÃO SOMOS PRINCESAS >> Mariana Scherma
Segura
as suas cabritas porque o meu bode está solto no pasto. Também, quem mandou
usar uma saia tão curta. Se tivesse ficado em casa, nada teria acontecido. Ela
ficou com mais de três, é uma galinha mesmo. Belas, recatadas e do lar. Você
vai ficar encalhada. Tem que aprender a cozinhar. Batom vermelho é vulgar. Ela
é uma biscate mesmo. Espera ele ligar, senão vai achar você fácil. Essas frases
foram as primeiras que me vieram à mente, mas o machismo está em todo lugar, da
propaganda de cerveja ao comentário desmerecedor a uma mulher no almoço de
domingo e a gente, mulheres e meninas, costumávamos abaixar nossa cabeça e
sorrir sem graça.
Costumávamos.
Dizem que as mulheres estão chatas com essa onda de feminismo exarcerbado. Se
depender de mim e das minhas amigas, continuaremos sempre chatas porque
feminismo é um pensamento necessário. Feminismo não é o contrário de machismo.
Feminismo é ter liberdade de agir, de pensar, de beijar, de vestir, de ser.
Feminismo é não ter que trocar de calçada ou de caminho porque tem um
engraçadinho que vive mexendo com você e lhe chamando de psiu. Se não nos
chamamos psiu, não somos obrigadas a olhar. Não somos obrigadas e ficar
envergonhada porque o fulano não segura seus hormônios nem usa respeito no dia
a dia e precisa falar impropérios.
Quantas
vezes ficamos sem graça de olhar em direção a uma buzinada e ver que é um mané
querendo aparecer? Eu parei de olhar para carros que buzinam porque me dá
raiva. Nessa, já deixei de dar oi a vários amigos no caminho porque pra mim
buzina é como ouvir um “nossa, que princesa!”. Quando era adolescente, sempre
me sentia mal de usar short ou uma calça mais justa. Sentia-me mal de me sentir
bonita. Essa onda de feminismo deveria ter começado bem antes. Porque, se o
corpo é nosso, as escolhas devem ser nossas. A gente quer respeito, não
assovios. Nenhuma mulher vai mandar o fulano parar o carro e beijá-la só por
conta de uma buzinada. Somos movidas a carinho, respeito e confiança.
Eu
não compro cerveja que faz comercial tosco. Eu resolvi xingar todo cara que
mexe comigo na rua (você deveria fazer o mesmo, é libertador). Eu já repreendi
meu pai quando fez um comentário com fundo machista – cabe a gente educar
nossos pais também. Eu falei alto quando um sujeito não deixava eu me expressar.
Mostrar que é feminista é muito mais que posts na timeline e, na vida real,
dizer que a fulana só tem cara de santa. Textão é importante, mas ações são
tanto quanto ou até mais. Porque você pode postar textão e desviar da rua do
cara sem graça e está sendo contrária ao que posta. Feminismo não é coisa de
mulher, feminismo é coisa de ser humano. Estamos na reta inicial de uma
revolução. Tem muito ainda pra acontecer. Mas eu estou cheia de coragem, e
você?!
Comentários
Super beijo