DELICADO >> Carla Dias >>


Tudo tão delicado...

Não de delicadeza de olhar fascinado. Não de delicadeza das manhãs em que se acorda antes da rotina... de quando se amanhece junto com o dia. É delicado nevrálgico, de dor latente, de palavra que fere como ferem alguns tons do silêncio.

Estratégicas amarras se vestem de liberdade, somente para acossá-la. Quando a prisão cai na passarela da vida, ela travestida de liberdade, o abismo parece multicolorido em um primeiro olhar.

Delicado de jeito que melhor é conter a língua, essa doida que anda doida para soltar palavras que reverberem o descabido. Mas desde quando descaber é pecado ou crime?

Delicado, mas não de delicadeza oriunda das emoções esbaforidas, que transitam pelo corpo, em segredo, versando prazer durante solidão. Não da delicadeza do sorriso desarmado, do toque parido para o puro ato de entretenimento da tez do outro.

Delicado que tem na mágoa o alimento, provoca desconexão entre a lógica e a emoção. E impacienta, melindra, reverbera ofensas como se recitasse o mais longo poema.

Tudo tão delicado...

Não de tenuidade que provoca o choro de emoção reprimida se libertando do peito. Tampouco da legitimidade das sutilezas do dentro. Delicado como que bradando indigências.

É preciso tempo para observar e sabedoria para compreender. É preciso capacidade de se perceber divergente a respeito do que parecia tão claro há alguns minutos. Que tudo anda tão delicado... Delicado de um jeito cruel, de patrocinar fins para relacionamentos em construção, desacordo na conta do que deveria ser desejo de todos.

Tudo tão delicado...


Imagem: Triumph Des Todes © Felix Nussbaum

Comentários

Zoraya disse…
"Delicado de jeito que melhor é conter a língua, essa doida que anda doida para soltar palavras que reverberem o descabido. Mas desde quando descaber é pecado ou crime?" Vc tem cada tirada, D. Carla Dias...
Carla Dias disse…
Zoraya, minha cara! As tiradas são arrancadas de mim... Eu juro! beijos.

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