A TARTARUGA >> Sergio Geia


Comprei uma tartaruga. De carapaça marrom, com bolas avermelhadas dispostas em forma linear. A cabeça não é alaranjada, nem marrom-avermelhada. É verde. E com grandes olhos negros. Não tem pescoço. Pelo menos não o vejo. O que vejo são quatro pernas grossas e fortes. E um rabo.

Nessa minha vida já vi muitas tartarugas andando por aí. Normalmente, a tartaruga é um animal lento, macambúzio, desanimado da vida. Tem ritmo próprio, e devemos respeitar. É certo que quase sempre dá preguiça apreciar uma tartaruga comendo ou andando; pelo menos assim são os relatos que me chegam de vez em quando, de amigos meus que já viveram a experiência.

Pois a minha tartaruga é bem diferente dessas. É alegre. Eu nunca tinha visto uma tartaruga alegre. A minha é. Ela chega até a sorrir. É bem verdade que quando a comprei, as suas irmãs também pareciam ter a mesma alegria, o mesmo entusiasmo com a vida. Decerto é coisa de genética.

Ela fica paradinha na sala fazendo não sei o quê. Eu passo de um lado, e ela me acompanha com a cabeça. Eu volto, ela volta junto. É uma grande companheira e já me afeiçoei a ela no dia que veio pra cá. Se bem que sou daqueles homens que se afeiçoam fácil a um animal de estimação. Já tive dois. Dois cães. Gato não. Não gosto. Peixe também não. Muito menos hamster. Nunca pensei em ter uma tartaruga. Pois não é que a vida me pregou a peça, e cá estou com a minha!

Veja só. Agora que estou a escrever sobre ela, ela está aqui, sobre a minha mesa de trabalho, me acompanhando com sua cabecinha sempre balançando, como se estivesse a concordar com tudo que digo sobre ela. Vou escrevendo e falando em voz alta. Ela, com os olhos grudados em mim, balança a cabeça. Está certo que dela só falo bem, e aí, até um adorno de sala haverá de concordar.

Pois, amigo, não é que me esqueci de avisar dona Zezé, pessoa que me ajuda aqui em casa com a limpeza e os serviços domésticos, sobre a nova moradora? Fui trabalhar, deixei o dinheiro na estante, e só lá pelas cinco lembrei da coisa toda. Aí já era tarde. Como encontrei tudo do jeito de sempre, casa cheirosa e limpa, a tartaruga no lugar, achei que as duas se entenderam.

E realmente foi verdade. Se bem que dona Zezé me disse que levou um baita susto quando viu a pequena. Ela passava com a vassoura e a cabeça ia junto. Ela voltava e a tartaruga a acompanhava. Uma graça. Depois a examinou com cuidado, e viu que sua cabecinha estava presa na carapaça com um pequeno arame, o que a fazia se movimentar ao sabor do vento.

Só sei que as duas se entenderam e isso é o que importa. Já imaginou se desse lide?


Ilustração:http://www.supercoloring.com

Comentários

branco disse…
COMO SEMPRE, MAIS UMA CRÔNICA MUITO BOA. É UM PRAZER LER E SE DELICIAR EM LINHAS.
Darci Siqueira disse…
Muito legal! Parabéns.
Zoraya disse…
Sergio Geia!!! que coisa, vc me pegou! mto legal kkkk
sergio geia disse…
Queridos Wilson, Eduardo, Zoraya, Darci, grato mais uma vez pelos comentários. Pois é rsrs, mas ela é uma graça kkkk
Cristiane Amarante disse…
Q legal! Vem aqui em casa q a minha morde até seu calcanhar...rsrs
Unknown disse…
Pois não me pegou não! Eu desconfiei foi cedo. Sua tartaruga é muito diferente. Mas foi muito legal,muito criativo. Parabéns!
sergio geia disse…
Grato, Sueli. Cris, já estou com medo rsrs
Anônimo disse…
Quando chegou pela parte que conta que o pescoço dela lhe acompanhava, ja comecei a perceber que não era real essa tartaruga rsrs! Mas muito criativo! Meus parabéns!
sergio geia disse…
Obrigado, amigo, pela leitura e pelo comentário. É verdade, há pistas na crônica que entregam. Venha sempre e poste seus comentários, isso é muito legal. Gde abraço!

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