DILEMAS DE UM RECÉM-SEPARADO >> Sergio Geia
Fui às compras. Confesso que nunca me
imaginei comprando o que fui comprar. Nesses 45 anos de vida não precisei. Mas
dessa vez, não. Tive que me virar. Sozinho.
Entrei nas Pernambucanas à cata de
panos de prato. Pedi a uma vendedora que me mostrasse uns. Até que eram
bonitinhos. Delicados, com bordados infantis, desenho de porquinho, de
peixinho, de ursinho. O preço era bem razoável. Peguei quatro. Um pra enxugar
as mãos, outro pra enxugar a louça. Um jogo reserva. Mostrei a uma amiga que achou
lindo, mas disse que aquilo não era pano de prato, era pano de enxugar a mão.
“Eu comprei pano de prato”, disse, já meio bolado. Uma outra amiga me tranquilizou.
Falou que os panos eram ótimos, que enxugavam prato que era uma beleza.
Tapetinho pro banheiro é outra desgraça.
Uma que não achei nenhum bonito. Todos bregas. Era o jogo. Um tapetinho pra
pisar ao sair do banho; uma almofadinha pra forrar a tampa do vaso; um outro esquisitinho
pra colocar na frente. Umas cores danadas de feias! Depois de muito custo, achei
um mais ou menos, uma cor discreta, um bejão.
Numa outra loja fui procurar tupperware. Se há algo importante na
casa de um homem sozinho, isso eu aprendi, esse negócio se chama tupperware. O feijão, por exemplo. Você
pode cozinhar feijão uma vez a cada 10 dias. Distribui em pequenas porções e
guarda. Onde? No tupperware! Depois
congela. Quando quiser comer é só descongelar, pôr na panela, temperar, e o
feijão fica ótimo. As sobras também podem ir para o freezer. Carne moída?
Sobrou? Tupperware.
Cesto de lixo pro banheiro. Um porre. Precisava
de dois. Não sou nenhum referencial de estética dessas coisinhas, pelo
contrário, mas queria um basicão, branco, simples, sóbrio. Achei cada coisa...
Um modelo que gostei só tinha um, o outro tava quebrado. Não comprei nada.
Agora em casa já tem papel higiênico nos banheiros, mas não tem onde jogar. Por
enquanto, no saquinho... Ave Cristo!
Não gosto muito de ler manuais, e agora
tenho uma pilha sobre a mesa. O do fogão, por exemplo. Depois de tirá-lo da
caixa, de tirar todas as fitas que prendiam as peças, de tirar um plástico
azul, de deixá-lo prontinho para uso, tava lá escrito: “IMPORTANTE: faça a
instalação dos pés antes da remoção da fita que fixa o tampão de vidro”.
Aliás, foi necessário fazer a conversão
pra gás natural. Se tinha uma coisa que eu não queria gastar muito, essa coisa
era o fogão. Almoço na rua, à noite não sou de comer muito, as crianças vem no
fim de semana a cada 15 dias. Mas não que eu tenha comprado porcaria. Não era
um Brastemp, mas era um bom fogão, que estava na promoção. Acendedor
automático, branquinho, quatro bocas. No entanto, tinha de fazer a conversão. E
como era novo, e como está na garantia, tive que chamar a assistência autorizada.
Não cobravam pelo serviço, mas cobravam as peças. Os caras tinham que colocar
uma mangueira de cobre, um adaptadorzinho e trocar uma peça das bocas. O gás
comum tem muita pressão, então a peça tem um furinho pequeno. O gás natural não
tem pressão, então o furo tem de ser maior. Depois foi só mandar a
distribuidora ligar o gás. O que eu gastei nessa brincadeirinha toda deu um
fogão. Uma maravilha!
A máquina de lavar me assusta. Parece
um dinossauro dormindo na minha casa.
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