PELO DIREITO À CERVEJINHA >> Fernanda Pinho
Meu marido não toma bebida alcoólica. Refrigerantes? Gosta
de poucos. Geralmente opta pelos de laranja ou por suco. Eu também vivo
tranquilamente sem álcool, mas não resisto a uma cervejinha gelada num dia
quente ou a uma tacinha de vinho num dia frio (usar o clima como desculpa. Quem
sempre?). Foi assim que a cena se tornou um clássico em nosso relacionamento:
temos o hábito de apenas um dos dois fazer o pedido quando chegamos a um bar ou
restaurante. Poder ser ele, pode ser eu. Depende da disposição de cada um. Sem saber quem pediu o que, o garçom
invariavelmente faz a mesma dedução: o chopp pra ele e o suco de abacaxi com
hortelã pra mim (eca! Odeio abacaxi com hortelã). A gente ri e destroca os
copos, sempre com o cuidado de fazê-lo diante dos garçons. Adoro ver as caras
envergonhadas.
Na hora de pedir os pratos, a cena se repete. Eu gosto é de carne e massa e, por mais que eu
tente ousar nas minhas escolhas vez ou outra, é uma pizza com borda recheada de
catupiry que faz meu coração bater mais forte. Ele não. Especialmente à noite,
que é quando costumamos sair para comer e beber, meu marido tem predileção por
grelhados, peixes, saladas. E os pratos, tcharam!, vêm trocados.
Se você duvida, te convido a jantar um dia com a gente. Se
você compreende a lógica utilizada pelos garçons, tenho uma notícia pra te dar:
você é machista (e não está convidado para o jantar).
Há algumas semanas, um amigo do Maranhão postou em seu
Facebook a foto de um out-door que convidava para um happy hour num determinado
shopping. A peça publicitária era porcamente ilustrada com a foto de uma caneca
gigante de chopp e dois homens sorridentes. E não precisa nem muito esforço
para imaginar que se a campanha fosse de liquidação nas lojas teríamos mulheres
no cartaz.
Triste. E mais triste ainda pensar que essa mentalidade não
está apenas na cabeça dos garçons brasileiros (e chilenos, e argentinos) nem
dos publicitários maranhenses. É uma lógica arraigada tão profundamente na
cabeça de todos que que o machismo acaba virando o óbvio, a dedução natural.
Mulher que bebe é sem modos. Mas se beber, que faça uma
dieta. Não vá pedir uma pizza num restaurante porque barriguinha boêmia só é
charmosa em homem. Desse jeito, não vai encontrar nada que te sirva na
liquidação do shopping.
(E fica esperta. Marido que pede suco de framboesa? Não sei
não...)
Comentários
ótimo texto!
beijo!