PONTO DE VISTA >> André Ferrer
Nas redes sociais há
muitas postagens sobre a nova queda de audiência da poderosa Rede Globo.
Acontece todos os anos. É sazonal. Os heróis da resistência e toda sorte de
revolucionários fazem a festa porque a emissora é um dos símbolos da dominação.
Sendo boato ou verdade, qualquer pista de que as estruturas do império balançam
torna-se um grande acontecimento para trotskistas e macrobióticos.
A última onda de êxtase
originou-se da queda de audiência no período vespertino. A emissora teria
planos de extinguir a clássica Sessão da Tarde.
Tudo isso, no entanto,
é impreciso. Alguém já te visitou em casa e instalou um daqueles aparelhos de
medição atrás da TV? Cabeça de bacalhau. Quem acredita naqueles números? Anunciante?
Publicitário? O IBOPE ainda não se adequou à Era Digital. Outras modalidades de
pesquisa praticadas pelo próprio instituto são exemplos de precisão e utilidade
pública. No caso da audiência, parece-me que o instituto ainda usa a mesma
tecnologia da época das válvulas e do Assis Chateaubriand.
Nas redes sociais,
chega a ser irritante a argumentação de alguns macrobióticos (leia, caso prefira,
“de alguns trotskistas”). A qualidade caiu ou o povo ficou mais culto e
seletivo? Okay, vamos descascar o arroz. Cuidadosa e delicadamente, por favor,
para não desperdiçar aquela película milagrosa e quase invisível.
A qualidade caiu. Faz
tempo. Agora, mudemos para a segunda hipótese. Aliás, quero crer na segunda
hipótese! Na verdade, sou tarado pela segunda hipótese: “O povo ficou mais
culto e seletivo”. Quero crer, muitíssimo, ainda que o projeto educacional do
PT tenha alguma coisa a ver com isso. Afinal, tirar as pessoas do analfabetismo
e colocá-las na posição de analfabetos funcionais já é uma grande coisa.
Tudo bem, escrever o
próprio nome muda o ponto de vista de um telespectador. Agora, se ele
conseguisse ler e entender os editoriais de todos os principais jornais do país
e, dessa leitura distanciada e analítica, pudesse tirar suas próprias
conclusões! A educação tem que libertar o cidadão. Países em que não há
educação libertadora sequer merecem a classificação de emergente. Países assim
chafurdam na lama de uma gerência corrupta e totalitária. Não passam de
cativeiros. Qualquer país emergente também possui um exército de novos
letrados, uma tropa crítica, uma brigada de livres-pensadores emergindo das
trevas.
Dessa vez, tudo começou
por causa da Sessão da Tarde. A semana inteira, macrobióticos e trotskistas
comemoraram e vomitaram fibras e frases feitas por toda parte. Verdade? Boato? Será
que nos horários das novelas e dos programas mais idiotas e vazios da emissora
o mesmo também acontece? As pessoas mudam de canal, apertam off, abrem um
livro? À tarde, no entanto, ainda é preferível rever filmes como Ghost, Uma
linda mulher ou Aquamarine pela milésima vez do que assistir aos programas das
outras emissoras. Tirando os cortes, não se consegue interferir no conteúdo dos
filmes. O lixo de que se fala está na programação “caseira”, seja do SBT, Band,
Record ou da Globo. Sônia Abraão ou Caça Fantasmas? Daí o corte fica por nossa
conta.
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