PEQUENAS GUERRAS FRIAS >> Fernanda Pinho
De
repente, você faz um comentário aleatório e uma pessoa do seu círculo de
convivência tem certeza de que foi uma indireta e fica ofendida. Você não sabe
de nada até encontrar a tal pessoa e receber um tratamento um tanto quanto frio.
Mas você não leva desaforo pra casa e decide esfriar do seu lado também, não
sem antes soltar umas farpas por aí. Farpas estas que podem se encaixar na
situação. Ou não. E quando pensa que não, você tem praticamente um inimigo, sem
nem saber o motivo.
Eu,
que já passei por situações de, sem ter a menor ideia do porquê, notar algumas
pessoas reagindo à minha existência como se eu fosse o Jason na sexta-feira 13,
sou adepta do ir direto ao ponto. Chego e pergunto qual é o problema.
Normalmente, as coisas se esclarecem. Porque sempre que cheguei ao ponto de
botar a roupa suja pra lavar foi com alguém por quem eu tenho alguma
consideração. Se não tenho nem consideração, tô nem aí para como a pessoa reage
à minha existência.
Acontece
que nem para todo mundo é fácil encarar a situação de frente. Existe trauma,
existe timidez, existe vida sem graça (pra quê esclarecer a situação se esse é
o único assunto que movimenta meus dias?). E aí, na maioria das vezes, fica o
dito pelo não dito. E o não dito, quase sempre, é um mal entendido monstro.
Porque se não foi dito, podemos imaginar qualquer besteira. E assim somos, 90%
dos humanos: por que eu vou canalizar minha imaginação escrevendo livros,
produzindo filmes ou fazendo descobertas fantásticas para a ciência se eu posso
usar toda ela para especular o que os outros conspiram sobre mim? Estamos
sofrendo de carência, estamos sofrendo de mania de perseguição, estamos achando
que tudo é feito de caso pensado para nos atingir e por isso produzimos mal
entendidos em larga escala.
Sobretudo
agora, com o aval das redes sociais. A pessoa escreve “o pica pau é mau” e vai
ter pelo menos uns dez pra pensar “hummm...acho que esse pica pau sou eu”. E
assim é dado o primeiro ponto para tecer essa rede de guerras não declaradas que
– eu já vi acontecer – pode até destruir amizades. Por isso eu sou a favor da
criação de um tribunal das pequenas grandes causas. Cada uma das partes
apresenta suas versões, suas defesas, seus sentimentos envolvidos e o juiz
absolve todo mundo da angústia de não saber onde a relação se perdeu.
Mas,
como o tribunal é só mais um fruto da minha imaginação equivocadamente
aproveitada, pensemos em soluções alternativas. A pessoa falou que ia te ver e
não foi? Talvez ela esteja doente, trabalhando ou tenha ficado presa no
engarrafamento. Ou, quem sabe, nem tenha percebido que você a convidou para ir
na sua casa. Seja mais convincente na próxima. Você ligou três vezes e a pessoa
não atendeu? Já ouviu falar que celulares estragam? A pessoa não reagiu com
euforia a um presente que você deu? Não julgue. Você nunca vai ter certeza do
que acontece no fundo do coração do outro. A pessoa escreveu que o pica pau é
mau? De repente ele só está falando do desenho e não lembra que você existe há
um mês. Acho que usar um pouquinho da nossa imaginação para o bem, com o perdão
da rima, não faz mal a ninguém.
(Atenção:
O conteúdo acima é uma opinião pessoal e intransferível sobre situações
genéricas. Não devendo ser considerado como indireta para ninguém).
Comentários
É aquela coisa, né... tem gente que acha que o mundo gira em torno delas... e que as outras pessoas não têm nada melhor e mais útil a fazer do que passar a vida conspirando contra elas...
Você já leu Sun-Tzu-A Arte da Guerra?
Aquela ideia de que "o inimigo está sempre a postos e pode atacar a qualquer momento!"
Mal sabem, tais criaturas, que há muito o que se ver e se fazer para além do próprio umbigo...
Beijo!
:)