BREVIÁRIO >> Carla Dias
"Decerto" não é condição que o frequenta.
Ainda deseja sabores que desconhece, ruas pelas quais nunca andou, histórias que chegam sem aviso: construção de casa para servir de cais do vazio; alimento matando a fome em horário de necessidade; pessoas se desfazendo de desculpas oriundas do cansaço de não entender o que seja, quem seja.
Observe esse mundo de revirar olhos e estômago.
Pode parecer, mas não se trata somente dele. Desfia incômodos, reconhecendo-se protagonista de enredos que se desdobram em infernos tidos como salutares, munidos de etiquetas complementares de fazerem da reflexão o avesso do autoconhecimento. Esconder-se sempre o agoniou; considera um perder-se em si para construir o sem volta. Só que gosta de voltar e, às vezes, isso o resgata de inexistir.
Ressente, mas de sentir intenso e repetido, de mascar chicletes até perder o gosto, feito quem folheia revista publicada há anos, mergulhada em esquecimento, confabulado com horas rejeitadoras de viço. É o dolente corroendo verdades frágeis, arremessando desculpas para minimizar conflitos internos inesgotáveis, e a fazê-lo pensar o tempo na crueza do que ele é: ponte para o enfim.
Dedica-se a manter os olhos abertos, para ver a banda e o tempo passarem, e jamais se distrair não somente de si — porque pouco importará se viver absorto no nada —, mas também de todos que em seu dentro encontraram espaço e lá permanecem.
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