A PROSTRAÇÃO >> Fred Fogaça
Se aproximando do ponto pré-estabelecido, o ônibus frenava mais ou menos devagar, ela de pé na porta. Apertava a bolsa contra o ombro, a outra mão que aproveitava o ensejo do suporte pra acionar o de pedido de parada. Ela se concentrava nas pernas que ameaçavam vacilar seu pressuposto e na maquina que tinha sido deixada batendo roupas - sol não ia demorar do lado de fora num dia de frio que nem aquele, mas ela andava devagar. O passo cuidadoso escolhia as pedras menos irregulares pra firmar, a capela ia crescendo na frente dela, bastante perto, mas o percurso durava todas as expectativas. Ela se concentrava no equilíbrio do corpo naquele caminho tortuoso e num feijão cozinhando com a calma de um fogão velho.
Os pés descansaram tranquilos no piso lisinho e alinhado da capela, mas ela tinha o pisar ainda mais leve, pra não incomodar santo nenhum - e ainda assim ia furtiva até nos bancos lá da frente, o mais próximo possível deles todos no caso de algum já estar por ali e se concentrava, e nesse caso de todo no movimentando de se prostrar, cabeça baixa apoiada no dedos cruzados - por que não ousava olhar pra eles quando dizia:
- Ele poderia ter roubado mais...
Comentários
mínima nas palavras, máxima nos detalhes, essa, hein? boa demais.