EU ESTOU BEM >> Sergio Geia
Digamos que foi um susto. No último dia 11, eu voltava de Jacareí sentido Taubaté, seguia o fluxo normalmente quando no km 156 da Via Dutra, bem em frente ao posto de guarda, em São José dos Campos, os carros à minha frente — como em Blecaute, de Marcelo Rubens Paiva —, simplesmente congelaram. De 80 km, naquele trecho, para zero, em fração de segundo. Não tive tempo de rezar (ah, como eu queria!), nem sequer olhar pelo retrovisor, descobrir se havia ou não uma carreta atrás de mim. Quando a ficha caiu, pisei fundo no freio, consegui não atingir o veículo à minha frente, mas, também, só por outra fração de segundo. De repente, uma sensação esquisita: eu senti a estocada, os objetos que estavam em cima do banco do carona voaram, logo meu veículo era arrastado até atingir o da frente.
Desci. Os motoristas dos outros quatro carros desceram, todos confusos, querendo entender. Os três primeiros carros, incluindo o meu, pequenos danos materiais, levíssimos diante do susto. O penúltimo e o último, pt. Enfim. Depois de assistir a tantos, estava eu envolvido num engavetamento. Todos, inclusive eu, em bom estado, sem qualquer ferimento, se pudermos excluir o emocional, claro, do que entendemos ser esse bom estado. Na verdade, estávamos todos feridos emocionalmente.
Orientados pelos federais, pusemos os carros no acostamento. Habilitação e documentos. Teste do bafômetro (eu era virgem até então em bafômetros; como era virgem em colisões de automóveis. Aliás, tinha orgulho dessa condição: em mais de 30 anos de habilitação, nunca havia me envolvido num acidente). O coração continuava batendo rápido, embora me sentisse tonto, mergulhado numa espécie de torpor. Estava desorientado, zonzo. Liguei para um amigo. Conversamos. Precisava falar, me libertar da inação.
Boletim de ocorrência pela internet. Anotação das placas. Seguro do último dos carros deveria cobrir os danos. O motorista não lembrava qual era o seguro, teria que ver em casa, em pastas, depois deixou escapar que talvez não tivesse pago as últimas parcelas.
Consegui trazer o veículo até a garagem do meu prédio, agradecendo o tempo todo por não ter sido uma carreta a causadora do engavetamento. Entrei em casa estranho (continuo estranho). Examinei-me de cabo a rabo, não localizei qualquer dano aparente. Percebi que os batimentos cardíacos continuavam elevados, 120, 130; a pressão, normal. Tentei comer. Tentei dormir. Dia seguinte acordei cedo e saí para caminhar. Tentei trazer normalidade para o meu dia. Tentativas vãs. Caminhei, corri, mas continuo estranho.
Talvez um dia passe. Amanhã, quem sabe; ou depois.
Mas enfim, queridos, escrevo apenas para contar que apesar do susto, eu estou bem. Sei que alguns ficaram sabendo, ligaram, mandaram mensagens via whatsApp, demonstraram preocupação. Obrigado. Mas não foi dessa vez que vocês se livraram de mim, ou das minhas crônicas.
Foi uma coisa bobinha, eu sei, nada perto de tanta tragédia que ocorre por aí. (Aliás, por falar em tragédia, a fé é uma coisa maravilhosa, como maravilhosa é a quantidade de romeiros que caminham pela Dutra nesse mês de outubro em direção a Aparecida. Mas isso pode ser tema de uma outra crônica, quem sabe; já tenho o título: “Crônica de uma tragédia anunciada”). Mas é impressionante como uma coisa bobinha dessas desarranja por completo tudo que a gente demora anos para construir aqui dentro.
É vida que segue.
P.S.: Aviso aos navegantes: não precisei de Lexotan, ok? Ainda.
Desci. Os motoristas dos outros quatro carros desceram, todos confusos, querendo entender. Os três primeiros carros, incluindo o meu, pequenos danos materiais, levíssimos diante do susto. O penúltimo e o último, pt. Enfim. Depois de assistir a tantos, estava eu envolvido num engavetamento. Todos, inclusive eu, em bom estado, sem qualquer ferimento, se pudermos excluir o emocional, claro, do que entendemos ser esse bom estado. Na verdade, estávamos todos feridos emocionalmente.
Orientados pelos federais, pusemos os carros no acostamento. Habilitação e documentos. Teste do bafômetro (eu era virgem até então em bafômetros; como era virgem em colisões de automóveis. Aliás, tinha orgulho dessa condição: em mais de 30 anos de habilitação, nunca havia me envolvido num acidente). O coração continuava batendo rápido, embora me sentisse tonto, mergulhado numa espécie de torpor. Estava desorientado, zonzo. Liguei para um amigo. Conversamos. Precisava falar, me libertar da inação.
Boletim de ocorrência pela internet. Anotação das placas. Seguro do último dos carros deveria cobrir os danos. O motorista não lembrava qual era o seguro, teria que ver em casa, em pastas, depois deixou escapar que talvez não tivesse pago as últimas parcelas.
Consegui trazer o veículo até a garagem do meu prédio, agradecendo o tempo todo por não ter sido uma carreta a causadora do engavetamento. Entrei em casa estranho (continuo estranho). Examinei-me de cabo a rabo, não localizei qualquer dano aparente. Percebi que os batimentos cardíacos continuavam elevados, 120, 130; a pressão, normal. Tentei comer. Tentei dormir. Dia seguinte acordei cedo e saí para caminhar. Tentei trazer normalidade para o meu dia. Tentativas vãs. Caminhei, corri, mas continuo estranho.
Talvez um dia passe. Amanhã, quem sabe; ou depois.
Mas enfim, queridos, escrevo apenas para contar que apesar do susto, eu estou bem. Sei que alguns ficaram sabendo, ligaram, mandaram mensagens via whatsApp, demonstraram preocupação. Obrigado. Mas não foi dessa vez que vocês se livraram de mim, ou das minhas crônicas.
Foi uma coisa bobinha, eu sei, nada perto de tanta tragédia que ocorre por aí. (Aliás, por falar em tragédia, a fé é uma coisa maravilhosa, como maravilhosa é a quantidade de romeiros que caminham pela Dutra nesse mês de outubro em direção a Aparecida. Mas isso pode ser tema de uma outra crônica, quem sabe; já tenho o título: “Crônica de uma tragédia anunciada”). Mas é impressionante como uma coisa bobinha dessas desarranja por completo tudo que a gente demora anos para construir aqui dentro.
É vida que segue.
P.S.: Aviso aos navegantes: não precisei de Lexotan, ok? Ainda.
Comentários
P.S = E me lembrando, hoje é dia do Poeta, então, além do fraterno, receba também um poético abraço.