DE SAMPA >> Sergio Geia
De
Sampa, trago algumas histórias.
Num
dos dias fui ao Masp. Terça-feira a entrada é gratuita. Na oficina
que fazia no B_arco, Renan me disse que a fila estava horrorosa e que
não quis encarar. Na quarta eu fui, e mesmo sendo pago, a fila não
era das menores. Encarei. Enquanto estava nela, aguardando para
comprar ingressos, apareceu uma mulher toda vestida de branco se
oferecendo para medir a minha pressão. Num primeiro momento, pensei
que fosse alguém da Prefeitura, ou de alguma universidade, essas
campanhas que têm por aí. Ao se preparar para medir, com uma
técnica apurada de fazer duas coisas ao mesmo tempo, absurdas e
incompatíveis entre si, mostrou-me um boleto no valor de R$ 7.837,00
ou algo perto disso, dizendo que era o valor que a filha tinha de
pagar na faculdade de medicina, pedindo uma contribuição, que podia
ser de R$ 37,00, ou R$ 837,00, ou o valor todo. Decerto imaginou que
eu fosse algum figurão abastado, pobre de mim. Eu disse que
contribuiria com R$ 7,00 e olhe lá. Pelo menos ELA, e eu fui pego de
surpresa, estava 13x8.
No
frente do Masp sempre tem gente vendendo coisas. Numa das vezes,
comprei um livro de crônicas do escritor José de Carvalho, que, em
pessoa, no meio da multidão, oferecia sua obra por R$ 20,00, dizendo
que o livro tinha o prefácio do Lourenço Mutarelli. Desta vez
tentaram me vender um de poesia.
Um
fato inusitado. Num dos dias, o taxista que estava na porta do hotel
me contou que acabara de chegar um grupo de hóspedes. Que enquanto
aguardavam atendimento, um sujeito entrou, carregou uma das malas e
se mandou. Ninguém viu. Ele, o taxista, desconfiava que havia coisas
especiais na mala, mas não me disse que coisas especiais seriam
essas. Alguém vai roubar mala de roupas?, me questionou. Já era
algo planejado, arrematou, com a convicção dos advogados.
Sabe
que a Frei Caneca, onde normalmente fico, anda vivendo uma onda de
assaltos e violência. Na esquina da Barbosa Rodrigues, um rapaz foi
baleado outro dia ao se assustar com uma tentativa de roubo de
celular e morreu. A gente anda com medo, olhando para trás.
Numa
das noites fui ao shopping comer alguma coisa, e vocês acreditam que
o Shopping Frei Caneca fecha às 22 horas? Eu não acreditei. Falei
com o segurança, inconformado, se não seriam apenas as lojas, mas
não; ele me confirmou que também a praça de alimentação.
Por
falar em taxista, senti falta de boas conversas. A maior parte dos
motoristas que encontrei se mostrou calada, acho que assustada um
pouco com a violência, com a falta de chuva (fazia mais de cinquenta
dias que não chovia em São Paulo), com a falta de grana. Se não
puxo um papo qualquer, uma conversa sobre o calor, sobre futebol,
violência etc., ia de um lugar a outro em absoluto silêncio, como
uma igreja vazia. Em compensação, um deles falou demais.
Preconceituoso, mostrava-se indignado com o amor livre entre pessoas
do mesmo sexo. Tentei ponderar, mas senti que ele nem me ouviu.
Encontrei
um amigo que participava de um seminário sobre empreendedorismo, e
batemos altos papos num barzinho na Augusta (saiu uma crônica a
respeito). Por razões óbvias, não falarei seu nome.
Do
meu quarto, no décimo quarto andar, eu enxergo um pedaço da
Augusta. Difícil é dormir de sábado pra domingo. Aliás, havia um
barulho chatésimo de obra que não parava mesmo às três da
madruga, obra 24 horas. Acho que era perto da Paulista. Como as
autoridades permitem? E a lei do silêncio?
No
meu próximo retorno já marquei um almoço com a Roseli Oliveira e o
Denis Faria, amigos de longa data. Uma cerva com o Érito Mayer
também, esse artista estupendo, dançarino, palestrante, um showman.
Tudo
isso foi o lado do avesso do avesso do avesso da minha estada em
Sampa, o que desimportante aconteceu, que esteve à margem do
programa oficial. Desculpa aí por colocar minha lupa em coisas tão
insignificantes. Mas, e o que é escrever crônica senão isso?
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