SOBRE DIVIDIR A COMIDA >> Mariana Scherma
Esqueça
presentes caros. Bolsas. Joias. Vestidos e sapatos. A coisa que mais amo ganhar
no mundo é comida. Um bombonzinho fora de hora. Um pedaço de bolo na hora do
café – ou um convite pra tomar café seja onde for. Quem dá comida a alguém também dá carinho. Sei lá, mas eu só dou um pedaço de algo que fiz quando fica
gostoso. E também só dou comida pra quem mora mesmo no coração. Você não vai
dar beijinho (o doce, tá?) pra alguém duas caras ou pra alguém que não tenha intimidade,
certo?
Essa
história de dar comida, eu aprendi com meus pais. Em todo almoço feito em casa,
sai um prato para o porteiro. Meu pai sempre guarda um pedaço de bolo/pavê/o
que for para o personal trainer (o personal põe meu pai na linha e meu pai tira
o personal da linha, vamos resumir assim). Quando era mais nova, detestava sair
com o prato de comida até a portaria, achava nada a ver, "que mico, pai". Hoje sei que essa é uma baita
demonstração de afeto.
Por
sorte, vim morar vizinha de uma senhora que pensa parecido com meus pais. Ganho
um teco de tudo o que ela faz e ela ganha outro de tudo o que eu faço. Quando
não tenho nada, não devolvo o prato vazio. Nem que for um bombom comprado. O
importante, segundo minha mãe, é não devolver pratos nem tappewares vazios. “Isso
é falta de educação”. Na real, acho que isso seria mais “falta de carinho”, “cuidado”.
É mais ou menos assim: você dá um pedacinho do seu coração num pote
transparente e a pessoa o devolve vazio? Ah, sacanagem. Só não é pior do que
não devolver o pote... Mas isso não entra nessa coluna.
Felicidade
pra mim é um brigadeiro no meio do trabalho. É um pão de queijo no fim da tarde de
sábado. É um respiro no meio do turbilhão. É um carinho no estômago e na alma.
Quem divide comida também divide o coração. Só não vamos exagerar: dividir Ouro
Branco é a maior sacanagem do mundo. Quando você oferece um pedaço do seu Ouro
Branco, está subentendido que a outra pessoa vai dizer “não, obrigada”. Não
vamos apelar, minha gente.
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