FECHAMENTO É O CARAMBA >> Mariana Scherma
Fechamento,
em termos jornalísticos, é o pior dos tempos. Na prática, é quando se fecham
revistas e jornais para a impressão (notícias em papel, lembra?). Mas na
realidade é o cataclisma das comunicações. É um período de tempo curtinho, ok,
mas que aparentemente dura um mês. É a fase em que tudo pode acontecer. Tudo de
estranho, improvável e complexo rola. Sério, quando há um fechamento calmo,
pode esperar que no dia seguinte uma bomba explode (metaforicamente, fato, mas
com boas doses de estragos).
“Ai,
nossa, como jornalista exagera”. Não, jornalista, quando sente pavor de
fechamento, tem suas razões, não é exagero. Sou jornalista de papel e internet
há mais de 10 anos. Já passei pelos fechamentos mais bizarros da vida: alguns
mais trágicos (o casal da capa se separa, alguém noticiável morre, a gráfica
avisa que a concorrência vai usar a mesma foto na capa...) e outros mais
tranquilos (a publicidade quer mais ou menos páginas, a publicidade quer um publieditorial...
A publicidade paga as contas e a gente corre pra fazer). O único problema é que
só jornalista e designer entendem a loucura do processo, por isso o pânico. A maioria
das pessoas julga ser simples mudar a capa, alterar a matéria principal,
diagramar três pagininhas NO DIA em que se entrega o produto. A vontade que dá
é soltar um: “vem fazer, então”, mas há toda uma educação que impede isso.
Em
termos de adrenalina, fechar um produto impresso deve equivaler a um dia de
médico em pronto-atendimento: não dá pra atender ao telefone (aliás, a gente
assusta quando o bendito toca), não dá pra ir ao banheiro, esquece o cafezinho
e a água, trabalha, trabalha e trabalha. É puxado, mas sobrevivemos. Só que aí
vem um funkeiro com uma música e diz “meu fechamento é você”.
NÃO.
NUNCA. Jamais meu fechamento vai ser alguém que eu ame, goste ou por quem sinta
um mínimo de simpatia. Dizer que alguém é seu fechamento, no mundo das
publicações, é chamar essa pessoa de seu carma, seu tudo de ruim, seu
desespero, seu medo de atender o telefone, seu estresse, sua zica, sua dor de
cabeça que dura dois dias. Me recuso a apoiar essa gíria. Sinto muito.
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