REPENSANDO CONCEITOS
E FORMAS DE VIVER
[Heloisa Reis]
Quando estudei História na escola
e me foram apresentadas as Guerras - a do Paraguai, a do Peloponeso, a de
Waterloo (claro que não nessa ordem) -
já me incomodava saber o quanto os humanos eram (ir)responsáveis por
matarem-se uns aos outros. A explicação que eu intimamente aceitava era a de
que a n t i g a m e n t e os homens eram assim, e que agora, após a 2ª
Guerra Mundial, tinham finalmente aprendido.
Hoje neste novo período de nossa
História, com o desenrolar da
revolução das comunicações, com o
desenvolvimento tecnológico/científico, continuo perplexa não apenas com as
guerras que já se tornaram rotina nos
noticiários, mas também com o afastamento que vemos acontecer entre os humanos.
Enquanto o planeta todo é praticamente coberto por um
único sistema técnico, vemos tornarem-se cada vez mais indispensáveis ações que
aproximem os seres humanos de sua essência. Para isso precisamos todos de um
certo distanciamento de um valor que vem predominando: o consumo.
Claro que todos os seres humanos têm
direito a casa, conforto, saúde, transporte, trabalho, e o crescimento do
consumo que vemos acontecer por aqui, nas classes que antes não tinham acesso a
ele, é muito louvável. Não entro no mérito dessa questão.
Reflito sobre a
globalização e os supremos estágios da
indução ao consumo como se este fosse o único responsável por trazer felicidade. Sim, porque ao mesmo tempo
que vemos o seu aumento, vemos a diminuição dos espaços públicos vitalizados, o
decrescer da importância atribuída às artes e à cultura do social. Calçadas para quê? Os carros não
andam nelas... Árvores? Precisamos de seu espaço para a construção de shopping
centers, ruas, rodovias, condomínios.
Não. Não sou contra o sistema
capitalista e muito menos contra o sistema da livre-iniciativa. Acho que as
oportunidades devem estar abertas a TODAS as pessoas empreendedoras e
principalmente àquelas que querem
melhorar seu estilo de vida.
Aí chego ao meu ponto: que estilo de
vida é esse que prioriza apenas o “desenvolvimentismo” deixando os valores
humanos apenas nos discursos e propagandas quando deveriam ser o norte de qualquer projeto?
O mundo inteiro está envolvido em todo
tipo de troca: técnica, comercial, financeira e cultural, mas toda essa
atividade está freneticamente voltada
para a emergência do lucro em escala
mundial e algumas poucas empresas
globais são hoje o verdadeiro motor da atividade econômica que, feliz ou infelizmente, vem se mostrando
autofágica. Temos assim o quadro de um mundo
transformado em global, onde já se disse que o bater das asas de uma borboleta
pode provocar conseqüências como um furação do outro lado do mundo.
Milton dos Santos em “O País
Distorcido” – cuja leitura eu recomendo - nos mostra como essa concorrência
superlativa na economia – a competitividade – é danosa para todos os seres. A
ilusão de vivermos num mundo onde a prioridade é competir e passar por cima de valores éticos
para ter sucesso está por um fio. E as
grandes e poucas organizações que regem os nossos destinos estão ameaçadas pelo
despontar de uma nova tendência: a de um mundo solidário, que
deseja e trabalha por desenvolver um tecido social coeso, forte e irrigado, sem
drogas, sem enormes lucros, sem enormes distâncias, sem globalizações perversas,
apenas com Boa-Vontade, Prosperidade, Paz e, principalmente, sem guerras de qualquer espécie.
Eu torço e rezo por isso.
*Ilustração: Obra da Autora: “Mãos Postas”, Acrílicas sobre tela
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