O MICO DO ANO-NOVO >> Kika Coutinho
Todo ano, a mesma coisa. Lá pra outubro começam as ofertas: “Passe o réveillon pulando as sete ondas! Cinco dias por R$4.958,00!”. Ou: “Imperdível, curta seu ano novo na Europa!” Eu paro de ler antes de chegar nos números. Chega a ser ridículo. O hotel que fica vazio o ano todo, se oferecendo via sites de compras coletivas que saltam a todo instante na net, no réveillon, não aceita menos do que um pacote por dez dias. Se conseguir fechar cinco dias, deu sorte. Muita sorte. Claro, isso se não contarmos a muvuca da praia. Pular sete ondas, sim, e pular também sete rosas brancas, um barco com mandinga, doze latinhas de cerveja. “Viraram uma caçamba de lixo aqui?”, pergunta um, tentando escapar de pisar em um caco de vidro, da garrafa de champagne que o vizinho, tão simpático, largou no chão logo após desejar muita saúde e sucesso. Sei, sei... "Segura as crianças, cuidado, tem gente estourando rojão aqui, que irresponsabilidade”, murmura outro, que derrama vinho no vestido branco da namorada. “Opa, tá um bucado cheio aqui hein?. Ô. Isso porque custava milão por dia, baratchynho." Ano que vem vou passar no campo, deve ser muito melhor.
Claro, o campo! Um hotel fazenda é tão aconchegante, piscina, calma, monitores para as crianças, uma delícia. E o preço não é tão exorbitante, se pensarmos que já vem com a ceia. A ceia, que deveria ser a melhor parte, parece até agradável a princípio. Mas é só chegar mais perto para ver que as toalhas brancas das mesas têm uma ou outra mancha. “Bobagem”, você pensa enquanto pega mais um amendoim. Logo entra a banda e, aí, é hora de repensar se foi barato mesmo. O senhor de gravata borboleta que cantarola “Adeus ano velho, feliz ano novo” não vale aquele dinheiro. E, pensando bem, qual é o sentido de rodopiar numa pista de dança ao som de músicas estranhas, com pessoas estranhas – que você nunca viu - enquanto crianças dormem em duas cadeiras emendadas e os velhinhos se acabam no champagne? Não, definitivamente não foi barato.
Uma outra saída é ficar em SP, no Rio, ou onde quer que você viva. Vá curtir o réveillon na praia, ver os fogos da Paulista e volte rezando para que não seja verdade que a gente repete o ano todo as sensações dos primeiros minutos do dia primeiro. Não, por favor, não.
Se você tiver muito dinheiro, pode até ir pra Europa. Ou pros States. Daí passa congelando, em cima de uma ponte qualquer com outras milhares de pessoas bêbadas, que, como você, não veem a hora de estar em baixo das próprias cobertas. E você jura que, ano que vem, vai ser diferente. Não vai pagar mico no ano novo, passar todo encapotado, mãos tremendo de frio, que idiotice. Ano que vem vai fazer alguma coisa bacana, vai ter uma noite excelente, no calor, no quentinho.. Vai. Vai sim. Quem sabe na praia, pulando as sete ondas.
www.embuchada.blogspot.com
Claro, o campo! Um hotel fazenda é tão aconchegante, piscina, calma, monitores para as crianças, uma delícia. E o preço não é tão exorbitante, se pensarmos que já vem com a ceia. A ceia, que deveria ser a melhor parte, parece até agradável a princípio. Mas é só chegar mais perto para ver que as toalhas brancas das mesas têm uma ou outra mancha. “Bobagem”, você pensa enquanto pega mais um amendoim. Logo entra a banda e, aí, é hora de repensar se foi barato mesmo. O senhor de gravata borboleta que cantarola “Adeus ano velho, feliz ano novo” não vale aquele dinheiro. E, pensando bem, qual é o sentido de rodopiar numa pista de dança ao som de músicas estranhas, com pessoas estranhas – que você nunca viu - enquanto crianças dormem em duas cadeiras emendadas e os velhinhos se acabam no champagne? Não, definitivamente não foi barato.
Uma outra saída é ficar em SP, no Rio, ou onde quer que você viva. Vá curtir o réveillon na praia, ver os fogos da Paulista e volte rezando para que não seja verdade que a gente repete o ano todo as sensações dos primeiros minutos do dia primeiro. Não, por favor, não.
Se você tiver muito dinheiro, pode até ir pra Europa. Ou pros States. Daí passa congelando, em cima de uma ponte qualquer com outras milhares de pessoas bêbadas, que, como você, não veem a hora de estar em baixo das próprias cobertas. E você jura que, ano que vem, vai ser diferente. Não vai pagar mico no ano novo, passar todo encapotado, mãos tremendo de frio, que idiotice. Ano que vem vai fazer alguma coisa bacana, vai ter uma noite excelente, no calor, no quentinho.. Vai. Vai sim. Quem sabe na praia, pulando as sete ondas.
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bj