O SEGUNDO AMOR >>> Sandra Modesto
Humberto já sabia. Conformou- se. Tinha um rival.
Sim. Lucia conheceu o primeiro amor. E não foi Humberto. Aquele amor à primeira cantada.
Não deu outra. Entre cantos e aplausos o amor durava.
O tempo rodou.
Em outubro de 2017...
Lucia soube uma novidade: Chico Buarque lança o CD CARAVANAS. “Garanta na pré- venda".
O tempo rodou.
Em outubro de 2017...
Lucia soube uma novidade: Chico Buarque lança o CD CARAVANAS. “Garanta na pré- venda".
- Humberto! Preciso desse disco.
Lucia ouviu e reforçou:
- Não é assim! Eu quero o CD CARAVANAS. Trinta e quatro reais. Comprei!
- Não é assim! Eu quero o CD CARAVANAS. Trinta e quatro reais. Comprei!
Pai e filho riram.
Humberto recordou com Lucia o tempo do namoro. Os vinis do Chico que ele comprou para presenteá- la. Gastava o mísero salário em Chicos. Mas o amor valia.
- Você escrevia nas capas textos apaixonantes. Só porque eu gostava.
Agora eu quero o CD novo. Só isso.
- Você escrevia nas capas textos apaixonantes. Só porque eu gostava.
Agora eu quero o CD novo. Só isso.
Beijaram- se. E o amor se fez: no sofá, na cama, ouvindo a poesia da cidade que ardia.
A pré-venda do disco não deu certo. Lucia enviou e-mail pra loja. Nada.
Quinze dias se passaram. Nada.
- Gente, quer saber, vou resolver isso.
- Gente, quer saber, vou resolver isso.
Acionou a filha que na época ainda morava em Uberlândia:
- Carla, já liguei no shopping, falei com a vendedora aí da loja, ela reservou. É o último. Compra pra mim, manda hoje, por favor!
- Mãe, comprei seu CD, já ouvi. A moça vai deixar pra você. Hoje.
Lucia teve o dinheiro devolvido pela loja virtual, que enviou mensagem se desculpando e explicando:
- O CD estava indisponível, senhora.
- O CD estava indisponível, senhora.
A essa altura do campeonato no site oficial do Chico:
“Em breve turnê Caravanas em várias capitais”.
- Pai, você sabe que minha mãe...
- Sei Gabriel. Eu sei.
A primeira cidade do show: Belo Horizonte.
- Amor, nós vamos em “beagá”. Os ingressos já estão à venda.
Corre daqui, corre dali. Sem cartão de crédito. E agora, segundo amor?
Ele conseguiu uma amiga em comum. Ingressos comprados.
Mas tinha viagem, hotel.
Parece um sonho, mas uma semana depois, o banco liberou cartão de crédito para a louca por Chico Buarque. Tudo certo.
Duas bagagens de mão, hotel reservado. Uma hora de voo.
Duas bagagens de mão, hotel reservado. Uma hora de voo.
Noite no Palácio das Artes. O show começou. Não era o Chico dos discos. Era Chico ao vivo. Olhos azuis, cantando “Minha embaixada chegou e Mambembe”.
Lucia fixou o olhar. Teatro lotado. Palco iluminado. A voz.
Que voz! Chico tocou vários instrumentos.
Que voz! Chico tocou vários instrumentos.
No repertório, vinte e oito músicas. Lucia viajou no tempo. Era dezembro. Duas horas de espetáculo.
Lucia usando jeans e salto alto. O segundo amor tentou levá-la em meio à multidão aglomerada.
- Moço, por favor, eu quero tirar uma foto com Chico.
- Sinto muito. Ele atendeu um limite de pessoas no camarim antes do show. Agora ele vai descansar. Amanhã tem show em outra cidade.
- Eu sei. Muito obrigada pela gentileza.
Lucia deu uma olhada de soslaio para Humberto. Os dois saíram do teatro. Viram filas. É que na parte da entrada principal, pôsteres do cantor. Adivinha se não rolou uma foto com Chico?
Tinha Chico espalhado no papel por toda parte.
Várias fotos. Lucia sozinha ao lado de Chico no pôster com microfone. Lucia e Humberto juntos no mesmo cenário. No show Caravanas.
"Tem que bater
tem que matar
Engrossa a gritaria
Filha do medo, a raiva é mãe da covardia". ( Trecho da letra Caravanas)
"Tem que bater
tem que matar
Engrossa a gritaria
Filha do medo, a raiva é mãe da covardia". ( Trecho da letra Caravanas)
Lucia sempre amou Chico Buarque como referência musical. Tudo começou em 1973. Durante uma aula de português a professora colocou numa fita- cassete: "Roda- viva".
Nos tenebrosos dias da Ditadura Militar.
Lucia sempre amou Chico Buarque como referência musical. Tudo começou em 1973. Durante uma aula de português a professora colocou numa fita- cassete: "Roda- viva".
Nos tenebrosos dias da Ditadura Militar.
Nos tenebrosos dias da Ditadura Militar.
Comentários