APOSTANDO CORRIDA COM A VIDA?* >> Cristiana Moura
Eram tantos os sonhos. Eram tantos os desejos. Ela, aos 16 anos incompletos, já não tinha certeza se os anseios eram mesmo dela ou se do mundo, da escola, dos pais, de um tem-que-ser pré-definido enquanto seus desejos mais íntimos ficavam camuflados em sua literatura preferida para a qual sequer tinha tempo a dedicar.
Mayara é dessas pessoas cheias de ideias, uma após a outra e todas ao mesmo tempo. É, ao mesmo tempo, inventiva e disciplinada. Estudava, saía com os amigos, estudava, assistia às aulas, estudava… Faltava-lhe o tempo para criar, inventar.
Certa feita, a menina confidenciou-me em palavras proferidas uma emendada à outra tamanha a aceleração de sua fala que parecia falta-lhe o ar, que quer fazer a faculdade em outro estado, por isto andava tão estressada, ansiosa, esquecendo até mesmo de comer. Um amigo, dos mais bem quistos, disse-lhe: “você é capaz!” Aí que ela ficou ainda mais nervosa e até mesmo com raiva. O que se pretendia incentivo em voz de um garoto soou-lhe como cobrança e pressão.
Falou-me também que além de fazer faculdade neste outro estado e ter a experiência de morar só, pretende, à graduação, emendar o mestrado. Nesta hora eu lhe disse:
— Mayara, respira, você está embriagada de futuro!
* Crônica publicada originalmente no jornal de Caruaru em 2 de outubro de 2019.
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