ALGUMAS RUAS >> Sergio Geia
Andava ontem, de noitinha, uma coisa boa me bateu. Nostalgia doce, logo pensei. Era
a Professor Moreira; de novo. Vi o pensionato das freiras (hoje a fria Cúria
Diocesana de Taubaté), a Doceria Nívea, a casa dos Castilhos. Vi a juventude
(bons tempos), e me vi perambulando, sozinho, à cata de coisas que não tinha a
menor ideia do que seriam, nem sabia definir, mas que empurravam a vida pra
frente.
A Doceria Nívea (pra minha alegria) ainda está lá
— desde 83, segundo o aviso na porta. Pois me vi entrando, escolhendo doces a
fim de presentear a amada (Nívea foi participante ativa de minhas táticas de
sedução, pra conquistar a mulher da minha vida. Ainda engatinhando um namoro, dei
de presente uma cesta de doces — a boca ainda enche de água, o coração aperta).
Vi-me entrando nos Castilhos para assistir Porky’s. Vi-me empunhando um violão,
soltando a voz ainda fraca, na frente do pensionato. E vi a janela se abrindo, emoldurando
os mais belos sorrisos das mais belas jovens que já vi.
Mas não era minha intenção falar do que vi,
principalmente por ser a Professor Moreira. Já tenho uma crônica publicada exatamente
com este título: “Na Professor Moreira”, em que falo dessas coisas, lembranças
que tenho de lá, dos Castilhos, das serenatas que fazíamos para as jovens do
pensionato, da tristeza que senti ao ver que hoje, tudo mudou, que a rua, assim
como a Desembargador, a Barão, virara uma rua de comércio.
Vi-me na dona Sinfa — como me queria bem —, entrando
em sua casa, sendo recebido com certa formalidade, um copo de água e todo o
carinho do mundo (uma vez, venci a eleição para dirigir os jovens da paróquia.
Ela, muito ativa na igreja, ministra de eucaristia, catequista, coordenadora de
diversos cursos, me chamou para me cumprimentar pela eleição e para dizer que
“agora, o grupo de jovens vai”, que somente eu teria pulso para dirigir o
grupo.) Ah, dona Sinfa! Morreu cedo. De repente, chegou a notícia de sua morte.
Eu muito senti.
Pois me vi ainda entrando na casa da Roseli, pra
tomar banho de piscina. Abrindo o portão da Marli para um aniversário.
Conversando com dona Eugênia. Jogando detetive numa varanda. Bebendo todas no
Água na Boca. Sorrindo, beijando, amando, flutuando. Ah, Professor Moreira, o
que fazes comigo?
Se eu tivesse que apontar as minhas ruas dessa
Taubaté, eu não titubearia: primeiro, a Desembargador Paulo de Oliveira Costa; a
Professor Moreira e, por fim, a Barão da Pedra Negra, e a Praça Santa
Teresinha.
A Desembargador, porque lá morei por 25 anos.
Porque lá tinha amigos, porque lá joguei bola, quando ela era uma avenida
tranquila. Porque lá andei de bicicleta, empinei pipa, joguei botão, bolinha de
gude, toquei violão. Porque lá, às vezes, eu ficava sentado vendo o tempo
passar, olhando o céu, as mulheres bonitas.
A Professor Moreira eu já disse.
A Barão, porque lá construímos a caverna dos
ratos (sim, João, eu lembro).
E a Santa Teresinha porque me acolheu criança,
jovem, e me acolhe todos os dias, hoje, amanhã, sempre, até a luz se apagar.
Ilustração: Praça Santa Teresinha
Comentários
boas recordações do local, para mim evoca doces lembranças do desembargador, meu saudoso vovô Paulo.
boas recordações do local, para mim evoca doces lembranças do desembargador, meu saudoso vovô Paulo.