SOBRE A MORTE DE UM HERÓI >> Cristiana Moura
Era outubro de dois mil e quatro. Eu estava sentada à mesa da cozinha em casa de minha mãe. Foi quando soube da notícia pelo telejornal: ele havia morrido. Sempre senti-me estranha diante do falecimento de ídolos ou pessoas públicas. Não me era conferida nenhuma especial emoção pela partida de um desconhecido. Mas naquele dia foi diferente. Uma lágrima escapou-me escorregando pela face como em que câmera lenta. Suspirei. Abandonei o lanche que perdia o sentido naquele momento. Só queria nutrir-me das suas palavras. Fernando Sabino havia morrido.
Foi tamanho o susto. Talvez eu pensasse que ele fosse eterno. Sofri. Era tamanha a revolução que ele havia feito em minha vida, a forma com a qual me tocou com suas palavras, que sofri por não ter-lhe dito, porque eu sabia dele o que ele não sabia de mim. Ele me disse:
"Para testar, coloco a mão direita espalmada sobre o espelho. Como era de esperar, ele ao mesmo tempo vem com a sua mão esquerda, encostando-a na minha. Sorrio para ele e ele para mim. Mais do que nunca me vem a sensação de que é alguém idêntico a mim que está ali dentro do espelho, se divertindo em me imitar. Chego a ter a impressão de sentir o calor da palma da mão dele contra a minha. Fico sério, a imaginar o que aconteceria se isso fosse verdade. Quando volto a olhá-lo no rosto, vejo assombrado que ele continua a sorrir. Como, se agora estou absolutamente sério?"
Ah, o menino no espelho era uma menina! Era eu! E podia, a partir daquele momento me ver melhor uma vez que Fernando me mostrara que eu era aquela menina no espelho, aquela menina a procurar alguém igual a si mesma, a espreitar a imagem refletida, tão igual e tão diversa.
E foram muitas as outras suas palavras que me tocaram. Lembro como se fosse hoje. A notícia, o aperto no peito, a lágrima a escorrer. Eu não havia agradecido o Fernando. Ah, Fernando, muito obrigada!
Foi tamanho o susto. Talvez eu pensasse que ele fosse eterno. Sofri. Era tamanha a revolução que ele havia feito em minha vida, a forma com a qual me tocou com suas palavras, que sofri por não ter-lhe dito, porque eu sabia dele o que ele não sabia de mim. Ele me disse:
"Para testar, coloco a mão direita espalmada sobre o espelho. Como era de esperar, ele ao mesmo tempo vem com a sua mão esquerda, encostando-a na minha. Sorrio para ele e ele para mim. Mais do que nunca me vem a sensação de que é alguém idêntico a mim que está ali dentro do espelho, se divertindo em me imitar. Chego a ter a impressão de sentir o calor da palma da mão dele contra a minha. Fico sério, a imaginar o que aconteceria se isso fosse verdade. Quando volto a olhá-lo no rosto, vejo assombrado que ele continua a sorrir. Como, se agora estou absolutamente sério?"
Ah, o menino no espelho era uma menina! Era eu! E podia, a partir daquele momento me ver melhor uma vez que Fernando me mostrara que eu era aquela menina no espelho, aquela menina a procurar alguém igual a si mesma, a espreitar a imagem refletida, tão igual e tão diversa.
E foram muitas as outras suas palavras que me tocaram. Lembro como se fosse hoje. A notícia, o aperto no peito, a lágrima a escorrer. Eu não havia agradecido o Fernando. Ah, Fernando, muito obrigada!
Comentários