SOBRE TELEMARKETING E EX-AMORES >> Mariana Scherma
Pegar
no pé sempre foi uma estratégia que causa um só efeito em mim: querer
distância. Tipo, eu aqui, você em Júpiter. Há quem diga que o fato de eu ser de
Sagitário tem a ver com isso, sagitarianos prezam muito a liberdade. Mas será
que existe alguém que despreze a liberdade de não ter que atender um celular
pela décima vez e avisar que "não, eu não quero esses benefícios para o
meu celular". Ou dizer "não, obrigada, estou contente com meu cartão
de crédito". Ou avisar ao ex "para com isso, nossa vez já
passou". Bem no fundo, telemarketing e caras pegajosos são parecidos,
provocam nossa cara de desprezo, aquela que faz os olhos virarem e a boca dar
uma entortadinha, querendo dizer “que saco!”.
Não estou exagerando. Nos últimos dias de
2012 e nos primeiros de 2013, esses três acontecimentos atormentaram meus dias.
Pensei em jogar o celular, juro! Eu sou dessas pessoas que acreditam que
celular serve só pra emergência (tô ultrapassada, eu sei). Toda essa
insistência só me faz ter uma certeza: o marketing da pressão não cola comigo.
Cola em alguém será? Quanto mais insistem pra você querer/comprar/amar algo (ou
alguém), mais você percebe que não precisa do que está sendo oferecido. Eu
entendo o desespero de um operador de telemarketing querendo deixar seu começo
de ano mais gorducho e insiste (muito!), mas a arte de aceitar um não pode
levar a um sim mais pra frente (e o mesmo vale pra ex insistente).
Se
eu trabalhasse numa empresa de telemarketing, usaria uma tática que funciona
muito comigo: a da curiosidade. Ligaria e avisaria: “olha, em breve lançaremos
uma promoção para poucos. É a maior promoção de plano de celular já vista.
Anote este código que ligaremos em breve”. Pronto, já estaria quase querendo o
novo plano sem saber o que é. Adoro um mistério. Mas quanto mais você insiste
para o cliente querer, mais o cliente percebe que a promoção não tá com nada.
As pessoas deveriam aprender com a Apple: menos propaganda, mais qualidade.
Para
os problemas de amores (ex-amores, no caso), eu acredito no poder da saudade.
Afaste-se um pouco, mas, antes disso, seja gente boa, saiba conversar (e não
falar só de você e dos seus problemas) e, acima de tudo, seja de confiança.
Afastar-se só, sem essas qualidades anteriores, é nada além de um alívio grande
porque nenhum sentimento renasce depois de várias ligações e um sem números de
torpedos. Todo esse carnaval no celular só faz você apreciar o silêncio.
Um
pouco de distância nunca matou ninguém e, pela minha experiência, só reforça os verdadeiros laços. Moro longe de muitos amigos – e a amizade não se
deteriorou, pelo contrário. Moro longe dos meus pais e nossa relação só ficou
mais gostosa, sem aquelas chaticezinhas do dia a dia. Dizem que ciúme é o
tempero do amor, mas saudade também dá um gostinho bom. Se ciúme é a pimenta,
saudade talvez seja a canela.
A verdade é que marcação cerrada
nunca fez ninguém ser mais amado, querido ou desejado. Se fosse assim, todos os
atacantes de futebol se apaixonariam pelos zagueiros, certo? Minha dica, no
marketing e no amor, é deixar saudade, uma pitada que seja.
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