MÃES - E PAIS [Debora Bottcher]
"As mães não nos dizem onde estamos e deixam-nos sós; onde os medos acabam e Deus começa — aí talvez a gente esteja..." (Rilke)
Sempre ouço dizer que não é fácil assistir ao envelhecimento dos pais. Realmente não é. Então, é bom estar atento ao tempo que ainda se tem para desfrutar da companhia desses entes tão queridos — tempo esse que sempre será insuficiente, mesmo que no momento a gente nâo se dê conta disso.
Meu pai morreu jovem (aos 51 anos, há exatos treze anos na próxima segunda-feira), e isso já foi bastante difícil. Mas agora assisto minha mãe, que ainda é jovem também, envelhecer mais rápido do que considero normal por conta dos reveses da vida — perdas e danos emocionais insuperáveis para ela.
Eu a vejo pouco — moramos em cidades distantes e apenas nos falamos toda semana — e talvez por isso seja sempre um baque para mim nossos encontros: ela sempre está diferente. Não é só "mais velha", o que seria natural; é mais cansada, talvez mais triste, certamente mais solitária.
Na última semana, ela veio ficar comigo — pequenas férias a que se dá direito, longe dos meus irmãos. Foram dias agradáveis e leves. Mas, vez ou outra, eu me peguei com vontade de chorar, envolvida num enorme sentimento de saudade antecipada: e quando ela não estiver mais aqui, nem ao alcance do telefone? Colo de mãe é algo que nos renova, e essa inevitável ausência, que eu espero ainda demore, já me apavora.
Claro que, nessa breve convivência de uma semana inteira, eu aproveito sua companhia ao máximo: fazemos jantares juntas, inventamos doces e bolos, ficamos até tarde da noite papeando, ela costura minhas roupas, me ajuda a limpar o jardim e a cortar a grama, replanta minhas flores, passeia com as cachorras comigo, rimos, contamos histórias, lembramos outras tantas, e os dias passam como segundos.
E quando chega a hora de ela ir embora — hoje! — um vazio se instala em mim. Por alguns dias, eu fico me sentindo meio suspensa, com aquela sensação de que falta alguma coisa à minha volta e uma curiosa solidão interna me assola. Com a rotina, a emoção se aquieta e a vida se normaliza. Mas o medo de que o tempo a roube de mim, está sempre presente. Eu não quero dizer adeus, mas sei que um dia terei que fazê-lo.
Por isso, e por tudo mais, espero que minha mãe sinta meu amor por ela, mesmo que eu não seja tão presente nem esteja tão perto quanto eu e ela gostaríamos. Que ela me perdoe por toda e qualquer falha que cometi e a magoou, e que até o fim dos dias de uma de nós duas, estejamos amparadas pelo laço que nos une muito acima das distâncias e das diferenças.
Sempre ouço dizer que não é fácil assistir ao envelhecimento dos pais. Realmente não é. Então, é bom estar atento ao tempo que ainda se tem para desfrutar da companhia desses entes tão queridos — tempo esse que sempre será insuficiente, mesmo que no momento a gente nâo se dê conta disso.
Meu pai morreu jovem (aos 51 anos, há exatos treze anos na próxima segunda-feira), e isso já foi bastante difícil. Mas agora assisto minha mãe, que ainda é jovem também, envelhecer mais rápido do que considero normal por conta dos reveses da vida — perdas e danos emocionais insuperáveis para ela.
Eu a vejo pouco — moramos em cidades distantes e apenas nos falamos toda semana — e talvez por isso seja sempre um baque para mim nossos encontros: ela sempre está diferente. Não é só "mais velha", o que seria natural; é mais cansada, talvez mais triste, certamente mais solitária.
Na última semana, ela veio ficar comigo — pequenas férias a que se dá direito, longe dos meus irmãos. Foram dias agradáveis e leves. Mas, vez ou outra, eu me peguei com vontade de chorar, envolvida num enorme sentimento de saudade antecipada: e quando ela não estiver mais aqui, nem ao alcance do telefone? Colo de mãe é algo que nos renova, e essa inevitável ausência, que eu espero ainda demore, já me apavora.
Claro que, nessa breve convivência de uma semana inteira, eu aproveito sua companhia ao máximo: fazemos jantares juntas, inventamos doces e bolos, ficamos até tarde da noite papeando, ela costura minhas roupas, me ajuda a limpar o jardim e a cortar a grama, replanta minhas flores, passeia com as cachorras comigo, rimos, contamos histórias, lembramos outras tantas, e os dias passam como segundos.
E quando chega a hora de ela ir embora — hoje! — um vazio se instala em mim. Por alguns dias, eu fico me sentindo meio suspensa, com aquela sensação de que falta alguma coisa à minha volta e uma curiosa solidão interna me assola. Com a rotina, a emoção se aquieta e a vida se normaliza. Mas o medo de que o tempo a roube de mim, está sempre presente. Eu não quero dizer adeus, mas sei que um dia terei que fazê-lo.
Por isso, e por tudo mais, espero que minha mãe sinta meu amor por ela, mesmo que eu não seja tão presente nem esteja tão perto quanto eu e ela gostaríamos. Que ela me perdoe por toda e qualquer falha que cometi e a magoou, e que até o fim dos dias de uma de nós duas, estejamos amparadas pelo laço que nos une muito acima das distâncias e das diferenças.
Comentários
Era leitora do Expressões Letradas, e teus escritos sempre me tocaram profundamente. Com esse texto não podia ser diferente. Minha mãe também mora longe, e sempre que temos que nos despedir sinto o vazio do qual vc fala. Muito difícil e doído viver certas ausências. Muito bom poder ler você de novo.
um beijo carinhoso,