TIRANDO DOCE DE CRIANÇA
>> Clara Braga
Quem nunca ouviu a expressão: "É tão fácil quanto tirar doce de criança"? Pois é, todo mundo já ouviu falar e mesmo sem nunca ter tentado literalmente roubar o doce de uma pobre criancinha indefesa, tem a leve idéia de que deve ser muito, mas muito fácil fazer isso. Eu mesma já tinha não só ouvido, como usado essa expressão várias e várias vezes, mas nunca tinha sido a criança que tem o doce roubado. Acho que só depois de ser a própria criança da história, consegui compreender a metáfora: todos somos crianças quando alguém tira algo de nós e nós ficamos sem ter o que fazer.
Lá estava eu, a princípio meio receosa. Será que eu deveria aceitar o convite de substituir o baterista daquela banda que faria seu show de despedida em um bom festival de música de Brasília? Sim, aceitei. Após o convite aceito, começa o trabalho árduo: ensaios que ou são muito cedo ou acabam muito tarde. Músicas que eu nunca ouvi antes e tenho pouquíssimo tempo para aprender, imprevistos no meio do caminho que fazem com que o tempo que já era pequeno fique ainda menor, estar no meio de pessoas que apesar de trabalharem juntas nem sempre se dão tão bem assim etc. Todos muito esforçados para enfim chegar o dia do festival. A estrutura era linda, o palco grande, o público animado, eu teria um palquinho separado para a minha bateria, ficaria mais alta, ficaria à vista, o som muito bom, direito a iluminação e fumaça no palco, tudo muito diferente do que eu estava acustumada. Não eram aqueles tablados que carinhosamente a gente chama de palco, tinha espaço. Se eu fizesse algum movimento mais brusco não esbarraria no baixista, se todos da banda resolvessem se animar muito e começar a pular, o palco não mexeria e eu não teria que me virar em mil para segurar a bateria que prometeria cair com o movimento do tablado. Era um sonho, era literalmente o meu doce. O sonho de pela primeira vez tocar em uma estrutura completamente diferente da que eu já tinha tocado antes. Fiquei muito feliz em ter aceitado o convite que, por várias vezes, me pareceu ser uma grande furada.
Credenciais de banda entregues, acesso livre a todas as partes, instrumentos no camarim, começamos a contar quantas bandas faltavam para a nossa vez de subir no nosso doce: três. A galera anima, a banda acaba, agora faltam duas, o caminho para nossa nave-mãe estava mais próximo. O coração acelera, a vontade de subir naquele palco, que pela primeira vez iria precisar de escada para a gente subir, só aumentava. A banda acaba, agora falta apenas uma. Aquela banda ensaia subir no palco, mas, antes mesmo que eles consigam terminar de montar seus instrumentos, ninguém mais ninguém menos que São Pedro decide tirar o doce de todas aquelas crianças com sede de palco enviando sem dó um dilúvio digno de Arca de Noé.
"A banda que iria subir agora desistiu de tocar, esperem a chuva passar e vocês são os próximos". Foi o que disse o otimista produtor que fazia com que a gente olhasse para o temporal e achasse que ele era lunático e não otimista. Mais de uma hora de espera, e a única coisa que eu queria era ser uma das escolhidas a subir na Arca. O produtor sobe ao palco e anuncia o que todos já sabiam mas não queriam acreditar: o festival estava cancelado, obrigado pela presença de todos, principalmente aos que estavam bêbados o bastante para acreditarem que não estava chovendo de verdade e continuaram na beira do palco dançando e cantando.
A sensação de que nadei, nadei e morri na praia foi instantânea, procurei alguém para culpar, mas de quem seria a culpa de uma chuva torrencial? E na verdade, de que adiantaria culpar alguém? A única coisa que quero agora é que alguém tenha dó de mim e me devolva meu doce.
Lá estava eu, a princípio meio receosa. Será que eu deveria aceitar o convite de substituir o baterista daquela banda que faria seu show de despedida em um bom festival de música de Brasília? Sim, aceitei. Após o convite aceito, começa o trabalho árduo: ensaios que ou são muito cedo ou acabam muito tarde. Músicas que eu nunca ouvi antes e tenho pouquíssimo tempo para aprender, imprevistos no meio do caminho que fazem com que o tempo que já era pequeno fique ainda menor, estar no meio de pessoas que apesar de trabalharem juntas nem sempre se dão tão bem assim etc. Todos muito esforçados para enfim chegar o dia do festival. A estrutura era linda, o palco grande, o público animado, eu teria um palquinho separado para a minha bateria, ficaria mais alta, ficaria à vista, o som muito bom, direito a iluminação e fumaça no palco, tudo muito diferente do que eu estava acustumada. Não eram aqueles tablados que carinhosamente a gente chama de palco, tinha espaço. Se eu fizesse algum movimento mais brusco não esbarraria no baixista, se todos da banda resolvessem se animar muito e começar a pular, o palco não mexeria e eu não teria que me virar em mil para segurar a bateria que prometeria cair com o movimento do tablado. Era um sonho, era literalmente o meu doce. O sonho de pela primeira vez tocar em uma estrutura completamente diferente da que eu já tinha tocado antes. Fiquei muito feliz em ter aceitado o convite que, por várias vezes, me pareceu ser uma grande furada.
Credenciais de banda entregues, acesso livre a todas as partes, instrumentos no camarim, começamos a contar quantas bandas faltavam para a nossa vez de subir no nosso doce: três. A galera anima, a banda acaba, agora faltam duas, o caminho para nossa nave-mãe estava mais próximo. O coração acelera, a vontade de subir naquele palco, que pela primeira vez iria precisar de escada para a gente subir, só aumentava. A banda acaba, agora falta apenas uma. Aquela banda ensaia subir no palco, mas, antes mesmo que eles consigam terminar de montar seus instrumentos, ninguém mais ninguém menos que São Pedro decide tirar o doce de todas aquelas crianças com sede de palco enviando sem dó um dilúvio digno de Arca de Noé.
"A banda que iria subir agora desistiu de tocar, esperem a chuva passar e vocês são os próximos". Foi o que disse o otimista produtor que fazia com que a gente olhasse para o temporal e achasse que ele era lunático e não otimista. Mais de uma hora de espera, e a única coisa que eu queria era ser uma das escolhidas a subir na Arca. O produtor sobe ao palco e anuncia o que todos já sabiam mas não queriam acreditar: o festival estava cancelado, obrigado pela presença de todos, principalmente aos que estavam bêbados o bastante para acreditarem que não estava chovendo de verdade e continuaram na beira do palco dançando e cantando.
A sensação de que nadei, nadei e morri na praia foi instantânea, procurei alguém para culpar, mas de quem seria a culpa de uma chuva torrencial? E na verdade, de que adiantaria culpar alguém? A única coisa que quero agora é que alguém tenha dó de mim e me devolva meu doce.
Comentários
Abraços.
É triste ficar sem doce...
Não sobrou nada positivo? Talvez novos contatos, aprender novas músicas...sei lá...