AS IRMÃS >> Ana Raja


O Facebook trouxe de volta uma foto publicada há doze anos. Nela, minha irmã Ivete e eu. Ela não está mais aqui. Logo depois daquele passeio que fizemos juntas, acabou. Ela acabou. Mas ficou, entende? 

Pensei no parágrafo final do meu livro, a despedida entre duas irmãs. 

Aquela foto ocupa um espaço isolado na minha memória. É como se existissem gavetas específicas no meu cérebro: as armazenadoras de lembranças boas e ruins. 

Um traço marcante da minha personalidade: para mim, tudo que significa término é fim; não tem volta. Não sei se posso me orgulhar disso, mas o que passou, eu esqueço. Não que eu tenha esquecido dela. Ela ainda circula nos meus sonhos, tomo decisões pensando em seus ensinamentos, mas não descarto o entendimento frio da morte. Talvez seja uma proteção.

Talvez.

***

“Laura, não posso ficar nessa janela com você, eu preciso partir, você acha que tudo terminou?

Não sei, Ana. O meu coração está arrasado. Só posso dizer que o impossível foi feito, eu vou ficar por mais um tempo. O céu maculado e cheio de estrelas acalma a minha dor.

Vai, pode ir. Vou ficar olhando você.” (As dores delas, 2024)

***

Comentários

Anônimo disse…
Me emocionei com a foto, com a crônica, com o parágrafo do livro. Que lembrança linda!
Anônimo disse…
Concordo com o comentário acima. A gente consegue perceber um caminhão de emoções nas entrelinhas. Muito bonito.
Zoraya Cesar disse…
meu coração ficou apertado, pois todo mundo que já perdeu um parente amado sabe que essa dor e essa sensação nunca passam. Vêm e voltam, mas estao sempre à espreita. Muito corajoso da sua parte, Ana, muito mesmo.
Albir disse…
As suas dores, Ana, que são as dores nossas de cada dia, as dores humanas.

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