À ALMA >> Sandra Modesto
Minha alma tem jeito e corpo de mulher
Costuma arranhar as paredes rabiscando alguns desenhos sem fim
Tem costas largas pra suportar a dor surrada vida afora
Minha alma tem cheiro e olhar de mulher
Anda seguindo meus sonhos
Atreve-se a cuidar dos meus pesadelos
Grita, sussurra, canta, geme.
Treme quando vem o amanhecer
Gosta de me acalmar, mas às vezes me esquece.
Minha alma tem pele e pelo que se arrepiam ao meio-dia
Que me faz acordar em meio a tantos goles de cafés amargos
De cigarros tragados à meia-noite
Bagunça minha cama até vazia
Estoura-me com lembranças essa minha alma
Balança numa gana intempestiva
Convida-me a atravessar os meus porquês
Dizendo que o passado é o presente
Embrulha-me feito agulha
Destrói meu caminhar no desafio
Canta na sala...
E toca violão, inventa um piano e bate o pandeiro.
Deixando no meu travesseiro um ser qualquer.
Descobre que o assédio, o estupro, o mundo estúpido
Precisam urgente de denúncias
Ah, minha alma não é só minha.
Tem força.
E é nossa!
Comentários
Ou será a Alma definida por este poema...A Alma nunca é "minha" e sim "nossa" e está sempre lutando contra os fantasmas que nos cercam?