A MENINA E A MÃE DA MENINA >>> Sandra Modesto
Vejo minha filha quentinha dentro de mim 
Sinto minha filha quietinha dentro de mim 
Vejo uma barriga cansada carregando minha filha 
Sinto uma hora chegando num dia no meio da tarde 
Num calor de janeiro 
É hora de uma barriga explodir 
Não vejo mais uma bola redonda 
Em redondilha maior 
O choro da minha filha 
Cruzando os olhos em mim 
Cravando meus tenores 
Temores da minha primeira vez 
“Eu acordei mãe” 
E foram tantos os caminhos 
Descobertas 
Culpas 
Lutas 
Conquisto o mundo com minha filha gritando dentro de mim 
Percebi que fui mãe assim 
Meus peitos num leite jorrado
Leite seco 
No preparo das mamadeiras 
No meu choro escondido 
Sinto minha filha correndo pra mim 
Olho o mundo com olhos arregalados 
Intuição misturada 
Cortaram minha barriga e um cordão 
Decoro o aflito berço em suaves prestações 
Carrego minha filha em meus braços 
Não programei o nascer da minha filha no mesmo dia que o meu 
Agora e sempre e hoje 
Minha filha é o amor ecoado 
Nesse verão de um acaso 
Nesse amor bagunçado 
Eu e minha filha
Minha filha e eu 
37 anos 
59 anos 
Do nosso 26.


Comentários
Não consigo parar de ler.
Parabéns!
Vocês duas são um poema. Agora, inclusive, literalmente.