CASCATA >> Sergio Geia
Deitado, olhos abertos, perguntei:
— Há uma nascente debaixo da janela?
Fui à varanda.
Do quarto andar do meu apartamento, espiei.
Um lado. Outro. Nada.
Procurei no vizinho barulhento, de repente lavava um automóvel ou um fogão.
Os ouvidos ouviam, os olhos não viam.
Coei café, varri a sala, conversei com meu amor, e mesmo depois de um tempo, a melodia que parecia fluxo de rio continuava lá.
Suspeitei de vazamento no restaurante que estava fechado, o mesmo que outro dia me serviu arroz cremoso do Seridó, acompanhado de uma cervejinha gelada, mas tudo estava tão calmo e seco.
Embora perturbado com o mistério, procurei usá-lo a meu favor, e me concentrei nos textos (um conto precisava de mim; talvez eu precisasse mais dele). A mente se acalmava com o barulhinho da água e me fazia bem.
E foi assim que num domingo de sol, a cascata que imaginei num instante secou, sem que eu soubesse de onde ela veio ou pra onde ela foi.
P.S.: Das miúdas.
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