BARRIGUDA: >> Ana Raja

 


somos muitas
nascidas e criadas
em solo fatídico
nossos corpos moldados: parideiras
preenchidas pelo líquido
que é vida
flores rosas
às vezes brancas
gestamos
arredondadas
protegidas dos espinhos

venha a nós a vossa doçura

aguardando o fruto
lamentamos
ao descobrir a distância
impedindo abraço – galho a galho
pois de nossas entranhas
apenas painas
parimos painas
eclodidas das pinhas
vento as arrancando morosamente 
a dor escorrida
lágrimas em flor apontam caminho
enfeitam os cabelos da terra
aceito meu destino
enquanto as minhas companheiras
- seja por escolha ou por ingenuidade -
vivem da tentativa de subverter o ciclo da terra
até morrerem
secas
sem mais serventia

feito eu.

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As dores delas, primeiro livro de Ana Raja, está a venda no www.editoraurutau.com.

anaraja.com.br


Comentários

Zoraya Cesar disse…
Quando lágrimas em flor apontam o caminho, já se sabe do que ele será feito e qual o destino. Triste e pungente!
Anônimo disse…
Esse final é um soco na boca do estômago. Belos paralelos costurando o lirismo até o último golpe.
Albir disse…
Que beleza, Ana!
A dor do parto e da partida.
Ana, você é sensacional!
Nadia Coldebella disse…
Ser a mulher das expectativas ou a mulher que vive das expectativas. No final, como isso acaba bem? Um poesia que coloca um espelho na cara de quem prestar atenção.

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